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9/29/2011

 JESUS, Formando e Formador
Carlos Mesters
Francisco Orofino                                                                                                  
Geralmente, quando falamos de Jesus, não costumamos ver nele o formando, mas só o formador. Na realidade, Jesus, igual a nós em tudo, menos no pecado (Hb 4,15), viveu o mesmo processo de aprendizagem, próprio de todo ser humano. Como todo mundo, crescia em sabedoria, tamanho e graça, diante de Deus e dos homens (Lc 2,52). Naqueles trinta anos em Nazaré, Jesus “crescia e ficava forte, cheio de sabedoria, e a graça de Deus estava com ele” (Lc 2,40). E mesmo depois, ao longo dos três anos da sua vida como formador dos discípulos e das discípulas, ele ia aprendendo no contato com o povo, com os discípulos e com os fatos duros da vida. “Mesmo sendo Filho de Deus, aprendeu a ser obediente através de seus sofrimentos” (Hb 5,8). Como todos nós, ele matriculou-se na escola da vida e tornou-se discípulo aplicado de Deus e do povo.
Falando de “Jesus formando e formador”, não se trata de dois períodos distintos, como se nos trinta anos em Nazaré Jesus fosse só formando, e nos outros três anos fosse só formador. Na realidade, o formando sempre é fator de formação para seu próprio formador. O formador se forma formando seus discípulos. Uma vez tendo formado o discípulo, o formador desaparece.
1. Seguir Jesus
2. O amigo que convive e forma para a vida
3. Jesus forma os discípulos envolvendo-os na missão
4. O método participativo das Parábolas
5. Atento ao processo de formação dos discípulos
6. Conteúdos e recursos didáticos

1. Seguir Jesus
Desde o começo, o objetivo do seguimento é duplo: estar com Jesus, formar comunidade com ele e ir em missão, ou seja, pregar, expulsar os demônios, ser pescador de gente (Mc 1,17; Lc 5,10; Mc 3,13-15). "Seguir Jesus" era o termo que fazia parte do sistema educativo da época. Indicava o relacionamento do discípulo com o mestre. O relacionamento mestre-discípulo é diferente do relacionamento professor-aluno. Os alunos assistem às aulas do professor sobre uma determinada matéria, mas não convivem com ele. Os discípulos "seguem" o mestre e se formam na convivência diária com ele, dentro do mesmo estilo de vida.O seguimento de Jesus tinha três dimensões que perduram até hoje e que formam o eixo central do processo de formação dos discípulos:
* Imitar o exemplo do Mestre:
Jesus era o modelo a ser recriado na vida do discípulo ou da discípula (Jo 13,13-15). A convivência diária com o mestre permitia um confronto constante. Nesta "escola de Jesus" só se ensinava uma única matéria: o Reino! E este Reino se reconhecia na vida e na prática do Mestre. Isto exige de nós leitura e meditação constantes do Evangelho para olharmos no espelho da vida de Jesus.

* Participar do destino do Mestre.
A imitação do Mestre não era um aprendizado teórico. Quem seguia Jesus devia comprometer-se com ele e "estar com ele nas tentações" (Lc 22,28), inclusive na perseguição (Jô 15,20; Mt 10,24-25). Devia estar disposto a carregar a cruz e a morrer com ele (Mc 8,34-35; Jo 11,16).Isto exige de nós um compromisso concreto e diário de fidelidade com o mesmo ideal comunitário com que Jesus, fiel ao Pai, se comprometia.
* Ter a vida de Jesus dentro de si.
Depois da Páscoa, surge uma terceira dimensão, fruto da fé na ressurreição e da ação do Espírito na vida das pessoas. Trata-se da experiência pessoal da presença de Jesus ressuscitado, que levava os primeiros cristãos a dizer: "Vivo, mas já não sou eu, é Cristo que vive em mim" (Gl 2,20). Eles procuravam refazer em suas vidas a mesma caminhada de Jesus que tinha morrido em defesa da vida e foi ressuscitado pelo poder de Deus (Fl 3,10-11). Isto exige de nós uma espiritualidade de entrega contínua, alimentada na oração. Tanto a convivência comunitária estável ao redor de Jesus e a missão itinerante através dos povoados da Galiléia, as duas dimensões fazem parte do mesmo processo de formação. Uma não exclui a outra. Pelo contrário! Elas se completam mutuamente. Uma sem a outra, não se realiza, pois a missão consiste em reconstruir a vida em comunidade.

2. O amigo que convive e forma para a vida
Ao longo daqueles três anos, Jesus acompanhava os discípulos. Ele era o amigo (Jô 15,15) que convivia com eles, comia com eles, andava com eles, se alegrava com eles, sofria com eles. Era através desta convivência que eles se formavam. Muitos pequenos gestos refletem o testemunho de vida com que Jesus marcava presença na vida dos discípulos e das discípulas: o seu jeito de ser e de conviver, de relacionar-se com as pessoas e de acolher o povo que vinha falar com ele. Era a maneira de ele dar forma humana à sua experiência de Deus como Pai:
* Amigo, comparte tudo, até mesmo o segredo do Pai (Jn 15,15).
* Carinhoso, provoca respostas fortes de amor (Lc 7,37-38; 8,2-3; Jo 21,15-17; Mc 14,3-9; Jo 13,1).
* Atencioso, preocupa-se com a alimentação dos discípulos (Jo 21,9), cuida do descansodeles e procura estar a sós com eles para repousar (Mc 6,31).
* Pacífico, ele inspira paz e reconciliação: "A Paz esteja com vocês!" (Jn 20,19; Mt 10,26-33; Mt 18,22; Jn 20,23; Mt 16,19; Mt 18,18).
* Compreensivo, aceita os discípulos do jeito que são, até mesmo a fuga, a negação e a traição, sem romper com eles (Mc 14,27-28; Jn 6,67).
* Comprometido, defende os amigos quando são criticados pelos adversários (Mc
2,18-19; 7,5-13).
* Manso e humilde, convida os pobres e oprimidos: "Venham todos a mim" (Mt 11,28).
* Exigente, pede para deixar tudo por amor a ele (Mc 10,17-31).
* Sábio, conhece a fragilidade dos seus discípulos, sabe o que se passa no coração deles e, por isso, insiste na vigilância e ensina-os a rezar (Lc 11,1-13; Mt 6,5-15).
* Homem de oração, aparece rezando em todos os momentos importantes de sua vida e desperta nos discípulos a vontade de rezar: "Senhor, ensina-nos a rezar!" (Lc 11,1-4; Lc 4,1-13; 6,12-13; Jn 11,41-42; Mt 11,25; Jn 17,1-26; Lc 23,46; Mc 15,34)
* Humano, Jesus é humano, muito humano, “tão humano como só Deus pode ser humano” dizia o Papa Leão Magno (Séc. V). Ele veio nos mostrar o caminho para quem quer ser divino: antes de tudo ser profundamente humano! (cf. Fl 2,6-11)

Deste modo, pelo seu jeito de ser e por este seu testemunho de vida, Jesus encarnava o amor de Deus e o revelava aos discípulos e discípulas (Mc 6,31; Mt 10,30; Lc 15,11-32). “Quem vê a mim, vê o Pai ” (Jo 14,9). Tornava-se para eles uma pessoa significativa que os marcou pelo resto de sua vida como "caminho, verdade e vida" (Jo 14,6).

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