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1/18/2012

JESUS: FORMANDO E FORMADOR

SEGUNDA PARTE
JESUS: FORMANDO E FORMADOR 

3. Jesus forma os discípulos envolvendo-os na missão
Desde o primeiro momento do chamado, Jesus envolve os discípulos na missão que ele mesmo estava realizando em obediência ao Pai. A participação efetiva no anúncio do Reino faz parte do processo formador, pois a missão é a razão de ser da vida comunitária ao redor de Jesus. (Lc 9,1-2; 10,1). Eles devem ir, dois a dois, para anunciar a chegada do Reino (Mt 10,7; Lc 10,1.9), curar os doentes (Lc 9,2), expulsar os demônios (Mc 3,15), anunciar a paz (Lc 10,5; Mt 10,13) e rezar pela continuidade da missão (Lc 10,2). Eis alguns aspectos desta sua atitude formadora com relação à missão:
* corrige-os quando erram e querem ser os primeiros (Mc 9,33-35; 10,14-15)
* sabe aguardar o momento oportuno para corrigir (Lc 9,46-48; Mc 10,14-15).
* ajuda-os a discernir (Mc 9,28-29),
* interpela-os quando são lentos (Mc 4,13; 8,14-21),
* prepara-os para o conflito e a perseguição (Jo 16,33; Mt 10,17-25),
* manda observar a realidade (Mc 8,27-29; Jo 4,35; Mt 16,1-3),
* reflete com eles as questões do momento (Lc 13,1-5),
* confronta-os com as necessidades do povo (Jo 6,5),
* ensina que as necessidades do povo estão acima das prescrições rituais (Mt 12,7.12),
* esquece o próprio cansaço e acolhe o povo que o procura (Mt 9,36-38).
* tem momentos a sós com eles para poder instruí-los (Mc 4,34; 7,17; 9,30-31; 10,10; 13,3),
* sabe escutar, mesmo quando o diálogo é difícil (Jo 4,7-30).
* ajuda as pessoas a se aceitarem a si mesmas (Lc 22,32).
* é severo com a hipocrisia (Lc 11,37-53).
* faz mais perguntas do que respostas (Mc 8,17-21).
* é firme e não se deixa desviar do caminho (Mc 8,33; Lc 9,54).
* desperta liberdade e libertação: "O ser humano não foi feito para o sábado, mas o sábado para o ser humano!" (Mc 2,27; 2,18.23)
* depois de tê-los enviado em missão, na volta faz revisão com eles (Lc 9,1-2;10,1; 10,17-20)
* desperta a atenção dos discípulos para as coisas da vida através do ensino das Parábolas (Lc 8,4-8).
4. O método participativo das parábolas
Jesus tinha uma capacidade muito grande de inventar parábolas ou pequenas histórias para comparar as coisas de Deus, que não são tão evidentes, com as coisas da vida do povo que todos conheciam e experimentavam diariamente na sua luta pela sobrevivência. Isto supõe duas coisas: estar por dentro das coisas da vida do povo, e estar por dentro das coisas de Deus, do Reino de Deus. A parábola é uma forma participativa de ensinar e de educar. Não dá tudo trocado em miúdo. Não faz saber, mas faz descobrir. Ela muda os olhos, faz a pessoa ser contemplativa, observadora da realidade. Leva a pessoa a refletir sobre a sua própria experiência de vida, e faz com que esta experiência a leve a descobrir que Deus está presente no cotidiano da vida de cada dia. Por exemplo, o agricultor que escuta a parábola da semente, diz: “Semente no terreno, eu sei o que é. Mas Jesus diz que isso tem a ver com o Reino de Deus. O que será que ele quis dizer com isto?” E aí você pode imaginar as longas conversas do povo e dos discípulos em torno das parábolas que Jesus contava. A parábola provoca. Em algumas parábolas acontecem coisas que não costumam acontecer na vida normal. Por exemplo, onde se viu um pastor de cem ovelhas abandonar noventa e nove no deserto para encontrar aquela única ovelha que se perdeu? (Lc 15,4) Onde se viu um pai acolher com festa o filho devasso, sem dar nenhuma palavra de censura? (Lc 15,20-24). Onde se viu um samaritano ser melhor que o levita e o sacerdote? (Lc 10,29-37). A parábola traz um exagero pedagógico. Ela provoca assim para levar o ouvinte a pensar. Ela leva a pessoa a se envolver na história a partir da sua própria experiência de vida. Uma vez um bispo perguntou numa reunião da comunidade: “Jesus falou que devemos ser como sal. Para que serve o sal?” Discutiram e, no fim, partilhando entre si suas experiências com o sal, encontraram mais de dez finalidades para o sal. Aí eles foram aplicar tudo isto à sua própria vida e descobriram que ser sal é difícil e exigente! A parábola funcionou e ajudou-os a dar um passo.
Iniciaram a travessia em direção ao Reino! Certa vez, por ocasião da parábola da semente, os discípulos perguntaram a Jesus o que ele queria ensinar por meio daquela parábola. Jesus disse: "Para vocês, foi dado o mistério do Reino de Deus; para os que estão fora tudo acontece em parábolas, para que olhem, mas não vejam, escutem, mas não compreendam, para que não se convertam e não sejam perdoados." (Mc 4,11-12).
Jesus distingue duas categorias de pessoas: “os de fora” e os “de dentro”. Aos de dentro, isto é, aos discípulos que convivem com Jesus e acreditam nele, é dado conhecer o mistério do Reino, pois o mistério do Reino era o próprio Jesus. Jesus é a semente do Reino. Aos de fora, isto é, aos que não faziam parte da “família de Jesus”, tudo é dito em parábolas, “para que vendo não vejam”. Estes, os de fora, sabem o que é semente, mas não sabem que o próprio Jesus é esta semente. Alguns deles, como por exemplo, aqueles fariseus e os herodianos que queriam matar Jesus (Mc 3,6), nunca aceitariam Jesus ser a semente do Reino. Por isso, mesmo vendo não enxergam e ouvindo não entendem. E por causa desta cegueira eles se excluem a si mesmos do Reino. Só poucas vezes Jesus explica as parábolas. Geralmente, ele diz: "Quem tem ouvidos para ouvir ouça!" (Mt 13,9; 11,15; 13,43; Mc 7,16). Ou seja: "É isso! Vocês ouviram! Agora tratem de entender!" De vez em quando, em casa, ele dava explicação aos discípulos (Mc 4,34-34). Isto significa que o ensino em parábola era um voto de confiança de Jesus na capacidade do povo e dos discípulos de entenderem o seu ensinamento. É bom para o formando saber e experimentar que o formador acredita nele e na sua capacidade de assimilar e compreender as coisas.

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