5.
Atento ao processo de formação dos discípulos
Não é pelo fato de uma
pessoa andar com Jesus e de conviver com ele que ela já seja santa e renovada.
O “fermento de Herodes e dos fariseus” (Mc 8,15), a ideologia dominante da
época, tinha raízes profundas na vida daquele povo. A conversão que Jesus pedia
e a formação que ele dava procuravam atingir e erradicar de dentro deles esse
“fermento” da ideologia dominante. Também hoje, a ideologia do sistema
neoliberal renasce sempre de novo na vida das comunidades e dos discípulos e
discípulas. O "fermento do consumismo" tem raízes profundas na vida,
tanto dos formandos como dos formadores, e exige uma vigilância constante.
Jesus ajudava os discípulos a viverem num processo permanente de formação. Vamos
ver alguns casos desta vigilância com que Jesus os acompanhava e os ajudava a tomarem
consciência do “fermento de Herodes e dos fariseus”. É a ajuda fraterna com que
ele, atento ao processo de formação dos discípulos, intervinha para ajudá-los a
dar um passo e criar nova consciência:
1. Mentalidade
de grupo fechado.
Certo dia, alguém que
não era da comunidade, usava o nome de Jesus para expulsar os demônios. João
viu e proibiu. Ele disse a Jesus: “Impedimos, porque ele não anda conosco” (Mc
9,38). João pensava ter o monopólio de Jesus e queria proibir que outros
usassem o nome dele para realizar o bem. Era a mentalidade antiga de "Povo
eleito, Povo separado!". Jesus responde: "Não impeçam! Quem não é
contra é a favor!" (Lc 9,39-40). Para Jesus, o que importa não é se a
pessoa faz ou não faz parte da comunidade, mas sim se ela faz ou não o bem que
a comunidade anuncia a todos em nome de Deus.
2. Mentalidade
do grupo que se considera superior aos outros.
Certa vez, os
samaritanos não queriam dar hospedagem a Jesus. A reação de alguns discípulos
foi violenta: “Que um fogo do céu acabe com esse povo!” (Lc 9,54). Queriam
imitar o profeta Elias (cf. 2Rs 1,10-11). Achavam que, pelo fato de estarem com
Jesus, todos deviam acolhê-los. Pensavam ter Deus do seu lado para defendê-los.
Era a mentalidade antiga de “Povo eleito, Povo privilegiado!”. Jesus os repreende:
"Vocês não sabem de que espírito estão sendo animados" (Lc 9,55).
3. Mentalidade
de competição e de prestígio.
Os discípulos brigavam
entre si pelo primeiro lugar (Mc 9,33-34). Era a mentalidade de classe e de
competição, que caracterizava a sociedade do Império Romano. Ela já se
infiltrava na pequena comunidade que estava apenas nascendo ao redor de Jesus.
Jesus reage e manda ter a mentalidade contrária : "O primeiro seja o
último" (Mc 9,35). É o ponto em que ele mais insistiu e em que mais deu o
próprio testemunho: “Não vim para ser servido, mas para servir” (Mc 10,45; Mt
20,28; Jo 13,1-16).
4. Mentalidade
de quem marginaliza o pequeno.
Mães com crianças
querem chegar perto de Jesus. Os discípulos as afastam. Era a mentalidade da
cultura da época na qual criança não contava e devia ser disciplinada pelos
adultos. Era ainda o medo de que as mães e as crianças, tocando em Jesus com
mãos impuras, causassem alguma impureza em Jesus. Mas Jesus os repreende:
”Deixem vir a mim as crianças!” (Mc 10,14). Ele os acolhe, abraça e abençoa.
Coloca a criança como professora de adulto: “Quem não receber o Reino como uma
criança, não pode entrar nele” (Lc 18,17). Transgride aquelas normas da pureza
legal que impedem o acolhimento e a ternura.
5. Mentalidade
de quem segue a opinião da ideologia dominante.
Certo dia, vendo um
cego, os discípulos perguntaram a Jesus: "Quem pecou, ele ou seus pais,
para que nascesse cego?" (Jo 9,2). Como hoje, o poder da opinião pública
era muito forte. Fazia todo mundo pensar do mesmo jeito de acordo com a
ideologia dominante. Enquanto se pensa assim não é possível perceber todo o
alcance da Boa Nova do Reino. Jesus os ajuda a ter uma visão mais crítica: “Nem
ele, nem os pais dele, mas para que nele se manifestem as obras de Deus” (cf Jo
9,3). A resposta de Jesus supõe uma consciência nova e uma leitura diferente da
realidade. Estes e muitos outros episódios mostram como Jesus estava atento ao
processo de conversão e de formação em que se encontravam seus discípulos. Isto
revela duas características em Jesus:
1) Possuía uma visão
crítica, tanto da sociedade em que ele vivia, como da ideologia ou “fermento”
que os grandes comunicavam aos súditos.
2) Tinha uma percepção clara de como
este “fermento”, disfarçadamente, se infiltrava na vida das pessoas. Pois de
certo modo, eles pensavam agradar a Jesus quando proibiam as mães aproximar-se
de Jesus ou quando pediam para Deus fazer baixar o fogo do céu.
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