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10/24/2012

AS CRUZES DA RESISTÊNCIA



Localizada no centro-norte da Europa, a Lituânia (65.200 km2, pouco maior que a Paraíba) é a maior das repúblicas bálticas. As outras são a Letônia e a Estônia, ao norte. Faz fronteira com Belarus, a leste; e com a Polônia, ao sul, à qual já esteve unida num vasto império. A população partilha de vários traços culturais poloneses, inclusive a religião católica (84,6% da população).
Durante sua história, o país foi alvo de inúmeras invasões, algumas das quais permaneceram longos períodos, como, por exemplo, os Cavaleiros Teutônicos (Ordem religiosa-militar, semelhante à dos Templários), que ocuparam a área durante todo o século XIV. A última grande ocupação aconteceu em 1939, quando o país foi invadido por tropas soviéticas. Em 1940, a Lituânia foi anexada à URSS, da qual se tornou independente em 1991. Sua capital é Vilnius.

A Colina das Cruzes


Próxima de Siauliai (“cidade do sol”, em lituano), pequena cidade industrial fundada em 1236, existe a chamada Colina das Cruzes, no monte Jurgaiciai. Lá se levantou um dos mais destacados pontos turísticos e de peregrinação da Europa. Trata-se de um santuário católico e o maior centro espiritual da Lituânia, porque naquela colina se erguem mais de 50.000 cruzes de todos os tipos e tamanhos. Na Lituânia, o hábito de erguer cruzes sobre túmulos de heróis data do século XIV, surgido durante a ocupação dos Cavaleiros Teutônicos.
Mas o nacionalismo religioso se intensificou e se tornou símbolo vital de resistência e coragem católica, a partir de 1831, para perpetuar a memória dos lituanos que morreram durante a rebelião contra as forças de ocupação russa, que já estavam no país desde 1795. Assim, a Colina das Cruzes transformou-se em uma sepultura simbólica de todos os lituanos mortos na resistência. Por volta de 1895, havia mais de 150 cruzes grandes e, em 1914, pelo menos 200.
Em 1940, a colina ostentava perto de 400 cruzes grandes, cercadas por milhares de outras menores. A prática se estendeu até o fim da Segunda Guerra Mundial (1945), quando os soviéticos, preocupados com as crescentes peregrinações, proibiram as cruzes, removendo-as repetidamente. Em 1961, 1973 e 1975, a colina foi nivelada, as cruzes foram queimadas ou sucateadas e a área foi recoberta com entulho. De nada valeu a “limpeza”, pois as cruzes continuaram a aparecer, furtivamente, à noite.
“Colocar uma cruz na colina era sinal de liberdade política, tanto quanto de símbolo religioso”, diz Linas Naujalis, que cresceu em Siauliai. Em 1985, a Colina das Cruzes foi deixada em paz, finalmente. De lá para cá, não cessam de chegar visitantes do mundo inteiro e... mais cruzes, rosários e imagens.
Em setembro de 1993, o papa João Paulo II visitou o local. Lá, declarou:
- “As cruzes da Colina foram erigidas para lembrar os filhos e as filhas da vossa amada terra, enviados à prisão e aos campos de concentração, os deportados na Sibéria e os condenados à morte”.
O valor do símbolo
A confecção e a exposição de cruzes refletem identidades culturais, crenças e cerimônias das comunidades de fé. São a expressão de seus valores religiosos, históricos, artísticos e até sociológicos. Desde a minúscula, em ouro ou prata, até a monumental em madeira, ferro ou concreto, ela simboliza o ponto mais elevado da redenção cristã.
Para o católico, não é apenas mais um objeto religioso ou de culto, mas é como que uma carteira de identidade, um sinal de pertença, uma porta por onde se chega à ressurreição. A cruz lembra um sacrifício. As milhares que brotam na Colina de Jurgaiciai, em Siauliai, testemunham a ousadia de milhares de lituanos que morreram na defesa de seus ideais nacionais e cristãos.

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