Refiro-me
ao dia da canonização dos Papas XXIII e João Paulo II. Que privilégio para
nossa geração que os conheceu e agora os venera na glória dos altares. São
santos modernos. Um veio do meio dos camponeses, o outro saiu do meio dos operários. Ambos
conquistaram o mundo. Um pela bondade, o outro pela jovialidade. Um anunciou e
iniciou o Concílio Vaticano II, o outro proclamou que o Concilio é a maior
graça do século XX introduziu a Igreja no novo milênio.
Ambos
sofreram os horrores das guerras e foram profetas da paz. Abraçaram a cruz até
o fim. Tornaram a Igreja mais santa, mais atraente, mais convincente. Um foi
eleito papa com 77 anos, o outro com 58 apenas. O velho foi chamado de
“Joãozinho” pelos romanos e rejuvenesceu a Igreja, o mais novo consagrou o
mundo à Divina Misericórdia e cativou a humanidade. Um disse no dia da eleição:
“eu sou vosso irmão”, o outro também no dia da elição pediu à multidão: “se eu
errar, corrijam-me”.
Ambos
foram peritos em humanismo, próximos do
povo, repletos de bom humor, gigantes na humildade e corajosos tanto na
fidelidade à tradição como na atualização da Igreja. Não são santos apenas de
um lugar ou de uma nação, são santos do mundo, padroeiros da humanidade. Fortes
e decididos no ecumenismo e no diálogo com as culturas. Um fez o propósito de
“ser bom até ao heroísmo”, o outro pediu perdão várias vezes pelos pecados dos
filhos da Igreja e rezou pelo seu agressor após o atentado dizendo: “eu perdoo
de coração ao irmão que me feriu”.
Ambos
desde cedo foram jovens de fibra. Um, severo consigo mesmo, entregue à
purificação do coração, moldado pelo livro “Imitação de Cristo” se santificou no
cotidiano. O outro órfão de mãe aos 9 anos, ainda bem jovem com 19 anos e pobre
já era operário, fazia teatros, escrevia poesias e se edificava vendo seu pai
rezar de joelhos madrugada afora. Foram cristãos sinceros, devotos do Anjo da
Guarda, de Maria Mãe de Deus e de São José. Desde pequenos foram coroinhas
cativados pela santidade dos seus párocos.
Ambos
não quiseram ser prisioneiros dentro dos muros do Vaticano. Eram pastores, não
apenas administradores. Peregrinaram pelas paróquias de Roma, pela Itália e
pelo mundo. Um recebeu, um jovem jornalista que foi barrado pela segurança do
Vaticano e disse: “Franco, eu agora sou Papa, mas, sou sempre o mesmo. Só mudei
de nome e de vestes”. O outro, acolheu seu colega que deixou o ministério,
tornou-se habitante de rua em Roma. Foi encontrado na praça São Pedro. O Papa
soube do fato, mandou-o chamar. Ao recebê-lo disse: “atenda-me em confissão,
por favor”, confessou-se com o ex-colega no sacerdócio, agora habitante de rua.
Nossos
dois novos santos visitaram os hospitais e cárceres de Roma, estiveram nas
periferias da cidade, ajoelharam-se diante do túmulo de Pedro e de seus
antecessores. Um foi no inicio do sacerdócio, simples vigário paroquial e
capelão entre as vítimas da guerra. O outro, chegou de Roma doutorado em
filosofia e teologia. Foi de carroça e depois a pé até à pequena paróquia do
interior, para ser vigário paroquial. Um cachorrinho veio ao encontro dele. A
cidadezinha tinha sido devastada pelos nazistas. Antes de bater na porta da
casa paroquial, ajoelhou-se e beijou o chão. São João XXIII e São João Paulo II
foram grandes na humildade e humildes na grandeza.
São João XXIII nos ajude a ser santos, simples
e bons. São João Paulo II nos cumule de ardor missionário e de grande amor pela
Igreja. Nos santos a graça de Cristo é vitoriosa. Eles são exemplos de fé para
serem imitados.
Dom Orlando Brandes
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