A OFERTA DE UMA VIÚVA POBRE
10 centavos da viúva X 1.000 reais dos ricos
COMENTANDO
Marcos 12, 38-40: Jesus critica os doutores da Lei
Jesus chama a atenção dos discípulos
para o comportamento ganancioso e hipócrita de alguns doutores da Lei. Estes
tinham gosto em circular pelas praças com longas túnicas, receber as saudações do
povo, ocupar os primeiros lugares nas sinagogas e os lugares de honra nos
banquetes. Eles gostavam de entrar nas casas das viúvas e fazer longas preces
em troca de dinheiro! E Jesus termina: "Essa gente vai receber um
julgamento mais severo!"
Marcos 12, 41-42: A esmola da viúva
Jesus e os discípulos, sentados em
frente ao cofre do Templo, observavam como todo o mundo colocava aí a sua
esmola. Os pobres jogavam poucos centavos, os ricos jogavam moedas de grande
valor. Os cofres do Templo recebiam muito dinheiro. Todo o mundo trazia alguma
coisa para a manutenção do culto, para o sustento do clero e para a conservação
do prédio. Parte deste dinheiro era usada para ajudar os pobres, pois naquele
tempo não havia previdência social. Os pobres viviam entregues à caridade
pública. Os pobres que mais precisavam da ajuda dos outros eram os órfãos e as
viúvas. Estas não tinham nada. Dependiam em tudo da caridade dos outros. Mas
mesmo sem ter nada, elas faziam questão de partilhar. Assim, uma viúva bem
pobre colocou sua esmola no cofre do Templo. Poucos centavos apenas!
Marcos 12, 43-44: Jesus aponta onde se manifesta a vontade de Deus
O que vale mais: os 10 centavos da
viúva ou os 1.000 reais dos ricos? Para os
discípulos, os 1.000 reais dos ricos
eram muito mais úteis para fazer a caridade do que os 10 centavos da viúva.
Eles pensavam que o problema do povo só poderia ser resolvido com muito
dinheiro. Por ocasião da multiplicação dos pães, eles tinham dito a Jesus:
"O senhor quer que vamos comprar pão por 200 denários para dar de comer ao
povo?" (Mc 6,37). De fato, para quem pensa assim, os 10 centavos da viúva
não servem para nada. Mas Jesus diz: "Esta viúva que é pobre lançou mais
do que todos os que ofereceram moedas ao Tesouro". Jesus tem critérios
diferentes. Chamando a atenção dos discípulos para o gesto da viúva, ele ensina
onde eles e nós devemos procurar a manifestação da vontade de Deus, a saber,
nos pobres e na partilha.
ALARGANDO
Esmola, partilha, riqueza
A prática de dar esmolas era muito
importante para os judeus. Era
considerada uma "boa obra", pois dizia
a lei do AT: "Nunca deixará de haver pobres na terra; por isso, eu te
ordeno: abre a mão em favor do teu irmão, do teu humilde e do teu pobre em tua
terra" (Dt 15,11). As esmolas, colocadas no cofre do Templo, seja para o
culto, seja para os necessitados, os órfãos ou viúvas, eram consideradas como
uma ação agradável a Deus. Dar esmolas era uma maneira de se reconhecer que
todos os bens e dons pertencem a Deus e que nós somos apenas administradores e
administradoras desses dons, para que haja vida em abundância para todas as
pessoas.
Foi a partir do Êxodo que o povo de
Israel aprendeu a importância da esmola, da partilha. A caminhada dos 40 anos
pelo deserto foi necessária para superar o projeto de acumulação que vinha do
faraó e que estava na cabeça do povo. É mais fácil sair do país do faraó que
deixar a mentalidade dele. Ela é sutil demais. Foi preciso experimentar a fome
no deserto para aprender que os bens necessários à vida são para todos. Este é
o ensinamento da história do maná: "Nem aquele que tinha juntado mais
tinha maior quantidade, nem aquele que tinha colhido menos encontrou
menos" (Ex 16,18).
Mas a tendência à acumulação era e
continua muito forte. Fica difícil uma pessoa livrar-se dela totalmente. Ela
renasce sempre no coração humano. É com base nesta tendência que os grandes
impérios da história da humanidade se formaram. Ela está no coração da
ideologia destes impérios. Assim, cerca de 1.200 anos depois da saída do Egito,
Jesus vai mostrar a conversão necessária para a entrada no Reino. Ele
disse ao jovem rico: "Vai, vende tudo o que tens, dá aos pobres" (Mc
10,21). A mesma exigência é repetida nos outros evangelhos: "Vendei vossos
bens e dai esmolas. Fazei bolsas que não fiquem velhas, um tesouro inesgotável
nos céus, onde o ladrão não chega nem a traça rói" (Lc 12,33-34; Mt
6,9-20). E Mateus acrescenta o porquê dessa exigência: "Pois onde
está o teu tesouro aí estará também o teu coração" (Mt 6,21).
A prática da partilha e da
solidariedade é uma das características que o Espírito de Jesus, comunicado no
dia de Pentecostes (At 2,1-13), quer realizar nas comunidades. O resultado da
efusão do Espírito é este: "Não havia entre eles necessitado algum. De
fato, os que possuíam terrenos ou casas, vendendo-os, traziam o resultado da
venda e o colocavam aos pés dos apóstolos" (At 4,34-35a; 2,44-45). Estas
esmolas recebidas pelos apóstolos não eram acumuladas, mas "distribuía-se,
então, a cada um, segundo a sua necessidade" (At 4,35b; 2,45).
A entrada de ricos na comunidade cristã, por outro lado,
possibilitou uma expansão do cristianismo, dando melhores condições para o
movimento missionário. Mas, por outro lado, a acumulação dos bens bloqueava o
movimento da solidariedade e da partilha provocado pela força do Espírito de
Pentecostes. Tiago quer ajudar estas pessoas a perceberem o caminho equivocado
no qual estão metidas: "Pois bem, agora vós, ricos, chorai por causa das
desgraças que estão a sobrevir. A vossa riqueza apodreceu e as vossas vestes
estão carcomidas pelas traças" (Tg 5,1-3). Para aprender o caminho do
Reino, todos precisam tornar-se alunos daquela viúva pobre, que partilhou tudo
o que tinha, o necessário para viver (Mc 12,41-44).
Texto extraído do livro CAMINHANDO COM JESUS - Círculos Bíblicos sobre o
Evangelho de Marcos. Autores: Carlos Mesters e Mercedes Lopes. CEBI
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