A condição para receber a visita de Deus (Lc 3,1-6)
Neste texto, Lucas fala da grande
expectativa que se criou no povo ao redor da pregação de João Batista. Ele
anunciava um batismo de conversão para o perdão dos pecados. Hoje também existe
uma grande expectativa de conversão e de reconciliação com Deus que se
manifesta de muitas maneiras.
Situando
Lucas situa a atividade de João Batista no 15º ano do governo de Tibério,
imperador de Roma. Tibério foi imperador de 14 a 37 depois de Cristo. No ano 63
antes de Cristo, o império romano tinha invadido a Palestina, impondo ao povo
uma dura escravidão. As revoltas populares se sucediam, uma depois da outra,
sobretudo na Galileia, mas foram duramente reprimidas. De 4 antes a 6 depois de
Cristo, durante o governo de Arquelau, a violência estourou na Judeia. Este
fato levou José e Maria a voltarem para Nazaré na Galileia e não para Belém na
Judeia (Mt 2,22). No ano 6, Arquelau foi deposto e a Judeia foi
transformada numa província romana com procurador diretamente nomeado pelo
imperador de Roma. Pilatos foi um destes procuradores. Governou do ano de 26 a
36. Esta mudança no regime político trouxe certa calma, mas as revoltas
esporádicas, como aquela de Barrabás (Mc 15,7) e a imediata repressão romana
(Lc 13,1), lembravam a extrema gravidade da situação.
Bastava alguém soprar na brasa e o
incêndio da revolta explodia!A calma era apenas uma trégua, uma ocasião
oferecida pela história, por Deus, para o povo fazer uma revisão do rumo da
caminhada e, assim, evitar a destruição total. Pois Roma era cruel. Em caso de
uma revolta, viria e acabaria com o Templo e a Nação. É nesse contexto que, em
torno do ano 28 depois de Cristo, João Batista aparece anunciando um batismo de
arrependimento para o perdão dos pecados.
Comentando
1. Lucas 3,1-2: Lembrando os antigos profetas Lucas tem a preocupação de
situar os acontecimentos no
tempo e no espaço. Ele dá os nomes dos governantes e descreve os lugares onde
João atua. Pois a história da salvação não é uma história distinta da nossa.
Ela é a nossa história. A maneira como Lucas introduz a pregação de João é
semelhante ao início dos livros dos antigos profetas. Eles costumavam indicar
quem era o rei na época em que o profeta exercia a sua atividade. Veja, por
exemplo, Isaías (Is 1,1), Jeremias (Jr 1,1-3), Oséias (Os 1,1), Amós (Am 1,1) e
outros. Lucas faz o mesmo para dizer que, após quase 500 anos sem profeta,
aparece novamente um profeta. Ele se chama João, o filho de Isabel e Zacarias.Comentando
1. Lucas 3,1-2: Lembrando os antigos profetas Lucas tem a preocupação de
2. Lucas 3,3: Arrependimento e perdão João percorre a região do Jordão pregando um batismo de arrependimento para o perdão dos pecados. Arrependimento (em grego: metanóia) significa mudança não só de comportamento, mas também de mentalidade. O povo devia tomar consciência de que o seu modo de pensar, marcado pela propaganda do Governo e do Templo, estava errado. Perdão traz consigo a reconciliação com Deus. João anuncia uma nova maneira do povo se relacionar com Deus.
3. Lucas 3,4-6: Definindo a missão de João Lucas cita o
seguinte texto de Isaías para ajudar os leitores e as leitoras a entenderem
melhor o significado da pregação de João: "Voz que clama no deserto!
Preparem os caminhos do Senhor!" (Is 40,3). Neste texto, Isaías anunciava
a volta do povo do exílio e a descrevia como se fosse um novo Êxodo. Era como
se o povo, voltando do cativeiro da Babilônia, saísse do Egito e entrasse
novamente no deserto. Para Lucas, Jesus inicia um novo Êxodo que estava sendo
preparado pela pregação de João Batista no deserto.
Os Evangelhos de Mateus (Mt 3,3) e de
Marcos (Mc 1,3) também citam a mesma frase de Isaías mas citam apenas o começo
(Is 40,3). Lucas a cita por inteiro até onde Isaías diz: "E toda a carne
verá a salvação de Deus" (Is 40,5). A expressão "toda a carne"
significa todo o ser humano. Esta pequena diferença mostra a preocupação de
Lucas em mostrar para as comunidades que a abertura para os pagãos já estava
prevista pelos profetas! Jesus não veio só para os judeus, mas para que
"toda a carne" pudesse ver a salvação de Deus.
Mesters e
Lopes
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