Seguir Jesus é seguir também a sua opção (Lucas 9.57-62)
O evangelho
de hoje nos alerta para a importância de cultivar as condições para seguir
Jesus: não proteger-se em “tocas” nem acomodar-se nos “ninhos” dos interesses
pessoais e das instituições de poder; libertar-se das amarras econômicas e
afetivas para viver a necessária e saudável autonomia no compromisso
vocacional; romper com as tradições passadas para abrir-se à novidade de Deus
na história presente, novidade que se manifesta por meio de sinais que nos
desafiam ao compromisso em torno de um mundo de fraternidade e paz. O texto
situa o exato momento em que Jesus toma a firme resolução de
ir a Jerusalém.
Inicia-se o “êxodo” de Jesus, cujo principal objetivo é educar seus discípulos,
abrindo-lhes os olhos a respeito das condições e consequências do seu
seguimento. No texto refletido no domingo passado (9,18-24), os discípulos, por
meio de Pedro, haviam declarado a Jesus que ele era o “Messias de Deus”. Não
sabiam, porém, o verdadeiro significado dessas palavras.
A concepção
A concepção
triunfalista de messianismo predominava em suas cabeças. Isso já ficou evidente
pelo tipo de discussão que tiveram logo depois da confissão de Pedro: quem
deles seria o maior? (cf. 9,46-48). Fica evidente também pela atitude de Tiago
e João diante da hostilidade dos samaritanos. Estes são inimigos ferrenhos dos
judeus. Certamente os dois mensageiros que Jesus havia enviado à sua frente
deviam ter preparado os ânimos dos samaritanos. Mas parece que fracassaram. O
que disseram e como fizeram? O fato é que sua missão não foi eficaz...
Jesus
repreende a Tiago e João e dirige-se para outro lugar.
No caminho são descritas três
espécies de vocações. Lucas quer enfatizar as exigentes condições para o
seguimento.
A primeira
demonstra disposição incomum: “Eu te seguirei para onde
quer que tu fores”. A
expressão faz lembrar as palavras de Pedro um pouco antes de negar a Jesus:
“Senhor estou pronto a ir contigo à prisão e à morte” (22,33). A resposta de
Jesus à primeira personagem alerta para a necessidade de ruptura com as
seguranças e confortos que impedem a prontidão permanente. As “tocas” e os
“ninhos” estão ligados à acomodação do poder em suas instituições. Neste
sentido, não é por acaso que Jesus vai chamar Herodes de “raposa” (13,32)...
A terceira
personagem também se oferece espontaneamente para seguir a Jesus, com a
condição de despedir-se primeiro do pessoal de sua casa. A expressão grega
denota o sentido de desvencilhar-se de uma incumbência. A personagem demonstra
indecisão, própria de quem tem dificuldades de desapegar-se dos seus negócios e
de quem ainda está amarrado a laços afetivos prejudiciais à liberdade e à
autonomia necessárias para responder ao chamado divino.
A
personagem central é convidada por Jesus. Está, porém, ligada às
tradições
paternas. Jesus pede-lhe que deixe o passado para entrar na nova dinâmica do
reino de Deus. Lembra a dificuldade manifestada pelos discípulos de
desatrelar-se da ideologia judaica.
Os três
tipos de vocações sintetizam as atitudes que devem caracterizar o verdadeiro
discipulado. A liberdade deve ser radical para que a opção pelo Reino seja
feita com inteireza.
Jesus
deseja que sejamos pessoas prontas a superar o individualismo, a
acomodação, a
administração egoísta dos bens, a tendência a fazer somente o que nos agrada
pessoalmente...
Também o
Evangelho de hoje nos alerta para a importância de cultivar as condições para
seguir Jesus: não proteger-se em “tocas” nem acomodar-se nos “ninhos” dos
interesses pessoais e das instituições de poder; libertar-se das amarras
econômicas e afetivas para viver a necessária e saudável autonomia no
compromisso vocacional; romper com as tradições passadas para abrir-se à
novidade de Deus na história presente, novidade que se manifesta por meio de
sinais que nos desafiam ao compromisso em torno de um mundo de fraternidade e
paz.
Texto baseado na revista pastoral
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