A moça
do perfume (Lucas 7,36-8,3)
O texto de hoje deixa transparecer outro
aspecto do Novo que Jesus trouxe. Na sociedade e na religião do tempo de Jesus,
as mulheres eram excluídas e discriminadas. Ao redor de Jesus, porém, homens e
mulheres se reuniam em igualdade de condições. Durante a leitura do texto somos
convidados a prestar atenção na seguinte questão: Qual atitude de Jesus para
com as mulheres que aparecem no texto?
SITUANDO
No
capítulo 7 do Evangelho de Lucas, Jesus continua abrindo o caminho,
revelando o
Novo. A transformação vai acontecendo. Jesus acolhe o pedido de um estrangeiro
não judeu (Lucas 7,1-10) e ressuscita o filho de uma viúva (Lucas 7,11-17). A
maneira de Jesus conceber o Reino surpreende cada vez mais aos irmãos judeus
que não estavam acostumados com a abertura de Jesus. Até João Batista fica meio
perdido e manda perguntar: "É o senhor ou devemos esperar por outro?"
(Lucas 7,18-30). Jesus chega a denunciar a incoerência dos seus patrícios:
"Vocês parecem crianças que não sabem o que querem!" (Lucas 7,31-35).
E agora, aqui no nosso texto, outro aspecto do Novo começa a aparecer. É a
atitude de Jesus para com as mulheres.
Na
época do Novo Testamento, a mulher vivia marginalizada. Na sinagoga ela não
participava, na vida pública não podia ser testemunha. Muitas mulheres, porém,
resistiam contra a exclusão. Desde os tempos de Esdras, a resistência da mulher
vinha crescendo, como transparece nas histórias de Judite, Ester, Rute, Noemi,
Suzana, da Sulamita e de tantas outras. Esta resistência encontrou eco e
acolhida em Jesus. No episódio da moça do perfume transparecem o inconformismo
e a resistência das mulheres no dia a dia e o acolhimento que Jesus lhes dava.
COMENTANDO
1. Lucas 7,36-38: A situação que provocou o
debate
Três
pessoas totalmente diferentes se encontram: Jesus, o fariseu e a moça!
Um
fariseu era um judeu observante. Da moça se diz que era pecadora. Jesus está na
casa de Simão, o fariseu que o convidou para o jantar. A moça entra, coloca-se
aos pés de Jesus, começa a chorar, molha os pés de Jesus com as lágrimas, solta
os cabelos para enxugá-los, beija e unge os pés com perfume. Soltar os cabelos
em público era um gesto de independência. Jesus não se retrai nem afasta a
moça, mas acolhe o gesto dela.
2. Lucas 7,39-40: A reação do fariseu e a
resposta de Jesus
Jesus
estava acolhendo uma pessoa que, conforme os judeus observantes, não podia ser
acolhida. O fariseu, observando tudo, critica Jesus e condena a mulher:
"Se este homem fosse um profeta, saberia que tipo de mulher é esta que o
toca, pois é uma pecadora". Jesus usa uma parábola para responder à
provocação do fariseu. A parábola ajuda a perceber o invisível de Deus a partir
da experiência que a pessoa tem da vida.
3. Lucas 7,41-43: A parábola dos dois
devedores
Um
devia 500 reais, o outro, 50. Nenhum dos dois tinha como pagar. Ambos
foram
perdoados. Qual dos dois terá mais amor? Resposta do fariseu: "Amará mais
aquele a quem mais se perdoa!" A parábola supõe que os dois, tanto o
fariseu como a moça, tinham recebido algum favor de Jesus. Na atitude que os
dois tomam diante de Jesus, mostram como apreciam o favor recebido. O fariseu
mostra o seu amor, a sua gratidão, convidando Jesus para o jantar. A moça
mostra o seu amor, a sua gratidão, através das lágrimas, dos beijos e do
perfume.
4. Lucas 7,44-47: O recado de Jesus para o
fariseu
Depois
de receber a resposta do fariseu, Jesus aplica a parábola. Mesmo estando na
casa do fariseu, a convite do mesmo, ele não perde a liberdade de falar e de
agir. Defende a moça contra a crítica do judeu praticante. O recado de Jesus
para os fariseus de todos os tempos é este: "Aquele a quem pouco foi
perdoado, mostra pouco amor!" O fariseu achava que não tinha pecado,
porque observava em tudo a lei. A segurança pessoal que eu, fariseu, crio para
mim pela observância das leis de Deus e da Igreja, muitas vezes me impede de
experimentar a gratuidade do amor de Deus. O que importa não é a observância da
lei em si, mas sim o amor com que observou a lei. E usando os símbolos do amor
da moça, Jesus dá o troco ao fariseu que se considerava em paz com Deus:
"Você não me deu água para lavar os pés,
não me deu o beijo de acolhida, não me deu água de cheiro! Simão, apesar de todo o banquete que me ofereceu, você tem pouco amor!
não me deu o beijo de acolhida, não me deu água de cheiro! Simão, apesar de todo o banquete que me ofereceu, você tem pouco amor!
"5. Lucas 7,48-50: Palavra de Jesus para a moça"
Jesus declara a moça perdoada e acrescenta: "Tua fé te salvou! Vai em paz!" Aqui transparece a novidade da atitude de Jesus. Ele não condena, mas acolhe. E foi a fé que ajudou a moça a se recompor e a se reencontrar consigo mesma e com Deus. No relacionamento com Jesus, uma força nova despertou dentro dela e a fez renascer.
Jesus declara a moça perdoada e acrescenta: "Tua fé te salvou! Vai em paz!" Aqui transparece a novidade da atitude de Jesus. Ele não condena, mas acolhe. E foi a fé que ajudou a moça a se recompor e a se reencontrar consigo mesma e com Deus. No relacionamento com Jesus, uma força nova despertou dentro dela e a fez renascer.
6. Lucas 8,1: Os doze que seguem Jesus
Numa
única frase Jesus descreve a situação: Jesus anda por toda parte, pelos
povoados e cidades da Galileia, anunciando a Boa Nova do Reino de Deus e os
doze estão com ele. A expressão "seguir Jesus" (Marcos 15,41) indica
a condição do discípulo que segue o Mestre, 24 horas por dia, procurando imitar
o seu exemplo e participando do seu destino.
7. Lucas 8,2-3: As mulheres seguem Jesus
O
surpreendente na atitude de Jesus é que, ao lado dos homens, há também mulheres
"junto com Jesus". Lucas coloca os discípulos e as discípulas em pé
de igualdade, pois ambos seguem Jesus. Ele também conservou os nomes de algumas
destas discípulas:
- MARIA
MADALENA, nascida na cidade de Magdala. Ela tinha sido curada de sete demônios;
- JOANA,
mulher de Cuza, procurador de Herodes Antipas, que era governador da Galileia;
- SUZANA
e várias outras. Delas se afirma que "seguem Jesus" (cf. Marcos
15,41) e que o "servem com seus bens".
ALARGANDO
O
Evangelho de Lucas sempre foi considerado o Evangelho das mulheres. De
fato,
Lucas é o que traz o maior número de episódios em que se destaca o
relacionamento de Jesus com as mulheres. Mas a novidade, a Boa Nova de
Deus para as mulheres, não está só na abundante citação da presença
delas ao redor de Jesus, mas sobretudo na atitude de Jesus em relação a elas.
Jesus as toca e deixa-se tocar por elas sem medo de se contaminar. À diferença
dos mestres da época, ele aceita mulheres como seguidoras e discípulas. A força
libertadora de Deus, atuante em Jesus, faz a mulher se levantar e assumir sua
dignidade. Jesus é sensível ao sofrimento da viúva e se solidariza com a sua
dor. O trabalho da mulher preparando o alimento é visto por Jesus como sinal do
Reino. A viúva persistente que luta por seus direitos é colocada como modelo de
entrega e doação. Numa época em que o
testemunho das mulheres não era aceito
como válido, Jesus escolhe as mulheres como testemunhas da sua morte,
sepultamento e ressurreição.
Nos
evangelhos, conservam-se várias listas com os nomes dos 12 discípulos que
seguiam Jesus. Havia também mulheres que seguiam Jesus, desde a Galileia até
Jerusalém. O Evangelho de Marcos define a atitude delas com três palavras:
seguir, servir, subir até Jerusalém. Os primeiros cristãos não chegaram a
elaborar uma lista destas discípulas que seguiam Jesus como o fizeram com os
homens. Mas os nomes de sete destas mulheres estão espalhados pelas páginas dos
evangelhos:
1.
Maria Madalena (Lucas 8,3)
2.
Joana, mulher de Cuza (Lucas 8,3)
3.
Suzana (Lucas 8,3)
4.
Salomé (Marcos 15,40)
5.
Maria, mãe de Tiago (Marcos 15,40)
6.
Maria, mulher de Clopas (João 19,25)
7.
Maria, a mãe de Jesus (João 19,25).
Texto extraído do livro "O AVESSO É O LADO
CERTO - Círculos Bíblicos sobre o Evangelho de Lucas".
Autores: Carlos Mesters e Mercedes Lopes. CEBI/Paulinas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário