SENHOR,
ENSINA-NOS A ORAR!
(Lucas
11,1-13)
O
evangelho proposto para este final de semana é a respeito do conteúdo da oração
e sobre como orar com perseverança e confiança.
De um lado, as orientações de Jesus a
respeito da oração estão imediatamente após a catequese sobre o mandamento do
amor (Lucas 10,25-28) colocado em prática através da solidariedade (Lucas
10,29-37), do serviço e do seguimento (Lucas 10,38-42). A comunhão com o
Espírito de Deus cultivada na oração é a fonte do amor, da misericórdia, da
diaconia e do discipulado.
De
outro lado, as orientações de Jesus a respeito da oração encontram-se
imediatamente antes da expulsão de um demônio de uma pessoa muda (Lucas 11,14).
Seu poder de cura está intimamente vinculado à sua oração (Lucas 11,1) e à fé
das pessoas (Lucas 7,50; 17,19; 18,42).
Podemos
dividir a catequese sobre a oração em três partes.
1.
A oração de Jesus e dos/as discípulos/as (Lucas
11,1-4)
Jesus
é uma pessoa de profunda oração. Ele rezava muito, seja em
momentos decisivos
de sua vida, seja no cotidiano. Estava sempre em busca de comunhão com o Pai.
Nessa intimidade filial, estava o segredo de sua missão.
Em
Mateus, temos sete pedidos no Pai-nosso (Mateus 6,9-13). Em Lucas, são cinco.
Lucas deve estar mais próximo da oração que Jesus sempre rezava. A comunidade
de Mateus acrescentou o desejo de que a vontade de Deus fosse realidade assim
na terra como já é no céu. É que os judeus cristãos não podiam deixar a Lei de
Deus fora do Pai-nosso. E a forma como o fizeram foi através do terceiro
pedido. Mas como deixar o pedido pelo Pão-nosso no coração da oração de Jesus?
Então, para manterem ímpar o número dos pedidos, repetiram o último em forma
afirmativa: “Mas livra-nos do maligno” (Mateus 6,13). Desse modo, o Pão-nosso
continuava no centro da
oração de Jesus e de seus discípulos.
Diferentemente
de Mateus, onde Jesus toma a iniciativa de ensinar o Pai-nosso (Mateus 6,7-9),
em Lucas, depois de acompanhar Jesus em oração, um seguidor lhe pede que também
ensine o seu segredo aos discípulos. “Senhor, ensina-nos a orar”. Então, Jesus
lhes revela o seu jeito de se relacionar com o Pai. E partilhou a sua
experiência. Esta oração é a síntese de seu projeto.
Nos
dois primeiros pedidos, Jesus nos propõe acolher o Pai com o seu projeto,
expresso por seu nome e pela justiça do reino. Nos três pedidos seguintes,
Jesus nos pede que, da mesma forma como ele, também nós respondamos ao Pai,
vivendo novas relações entre nós.
Pai
Abbá quer dizer paizinho, papai querido, tal como as crianças se dirigem a seus pais. É uma relação de confiança, de entrega e de intimidade. É um pai que gera vida, que acolhe e perdoa, que cria para a liberdade. Chamando a Deus de paizinho, reconhecemos também a nossa filiação divina, pois Jesus disse que o seu Pai também é nosso Pai (João 20,17).
1.1. Santificado seja o teu nome
Para o povo da Bíblia, o nome representa a própria pessoa. Santificar,
portanto, o nome de Deus é o desejo de
se comprometer com ele, de tornar realidade o seu nome, Abbá. Ser filho e filha
desse paizinho nos leva a ter com ele uma relação de confiança e de liberdade.
Leva-nos a revelar a sua glória, que se manifesta na vida do povo,
especialmente dos mais fracos. Leva-nos também a viver plenamente como pessoas
libertas e engajadas na luta pelo direito de todas as pessoas de serem
verdadeiramente livres de todas as formas de escravidão, de todos os ídolos
mundanos que nos tornam seus escravos.
Seu
nome também é Javé. “Assim serei lembrado de geração em geração” (cf. Êxodo
3,14-15). Santificar o seu nome é atualizar sua presença libertadora na luta
pela dignidade do povo excluído pelo sistema opressor do Egito. Quais sãos os
sistemas que hoje nos escravizam, grandes ou pequenos?
1.2. Venha o teu Reino
Desejar o Reino é abrir-se para
acolher o projeto de justiça e de amor vivido por Jesus, a fim de concretizá-lo
aos poucos em nosso dia a dia. Viver segundo o Reino é deixar-se conduzir por
seu Espírito, ao ponto de ter vida em abundância e de podermos dizer com o
apóstolo Paulo que “já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim” (Gálatas
2,20).
1.3. O pão nosso cotidiano nos dá dia a dia
Este é o pedido central do
Pai-nosso. Ao colocar o pedido pelo pão no coração de sua oração, Jesus nos
mostra que o pão repartido, isto é, a economia não acumulada é o centro do
projeto de Deus. Definitivamente, a economia está no centro do plano de Deus,
uma economia solidária, partilhada, não acumulada.
O
significado do pão é mais amplo e se refere também a todas as necessidades
fundamentais para vivermos com a dignidade de filhas e filhos de Deus, tais
como as seis necessidades lembradas por Jesus em Mateus 25,35-36: comida, água,
casa, roupa, saúde e liberdade. E mais. É também o pão repartido na Santa Ceia.
1.4. E perdoa os nossos pecados, assim como
também nós perdoamos a todo o que nos
deve
O
perdão de Deus é incondicional. Jesus revelou o amor do Pai, doando
sua vida
livremente, porém, na fidelidade ao projeto do Reino. Da mesma forma, este
pedido do Pai-nosso nos convida a exercermos a
misericórdia com perdão pleno, garantindo, dessa forma, vida digna a todas as pessoas, não permitindo que as dívidas sejam causa de sofrimento e humilhação. Somente pessoas reconciliadas podem viver relações harmoniosas e de justiça.
misericórdia com perdão pleno, garantindo, dessa forma, vida digna a todas as pessoas, não permitindo que as dívidas sejam causa de sofrimento e humilhação. Somente pessoas reconciliadas podem viver relações harmoniosas e de justiça.
A
misericórdia de Deus é sem limites. Ele está sempre pronto para perdoar, até
mesmo em situações limite, como o caso em que Jesus perdoa a seus algozes:
“Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem” (Lucas 23,34). No entanto, só é
capaz de acolher o seu perdão quem for capaz de também perdoar. Somente a
atitude de humildade nos abre para acolher o perdão infinito do Pai. O Pai do
filho perdido já estava oferecendo seu perdão desde a hora em que ele decidiu
seguir outro caminho. Porém, o filho somente experimentou a misericórdia do Pai
no momento em que caiu em si e se abriu ao perdão gratuitamente oferecido pelo
Pai (Lucas 15,11-32).
1.5. E não nos conduzas para a tentação
1.5. E não nos conduzas para a tentação
Jesus deixou bem claro quais são as principais tentações do maligno e que impedem vivermos conforme as relações do Reino. No relato das tentações, Jesus nos revela as principais seduções que nos afastam do caminho de Deus: a ganância da riqueza, a ambição do poder, a glória do prestígio e soluções mágicas para resolver a fome (Lucas 4,1-13). Para fazer frente a essas tentações, Jesus nos propõe o caminho da partilha da riqueza, do poder colocado a serviço e da simplicidade no viver.
2. Orar com insistência, com perseverança
(Lucas 11,5-10)
Com a
parábola do amigo importuno, Jesus revela mais características
da oração, isto é, a insistência e a perseverança, de um lado, e, de outro, a certeza de sermos escutados, diante da solidariedade e da gratuidade de Deus. Por isso, “peçam e receberão; procurem e encontrarão; batam, e a porta será aberta para vocês. Porque todo o que pede, recebe; todo o que procura, encontra; e, para quem bate, se abrirá”.
da oração, isto é, a insistência e a perseverança, de um lado, e, de outro, a certeza de sermos escutados, diante da solidariedade e da gratuidade de Deus. Por isso, “peçam e receberão; procurem e encontrarão; batam, e a porta será aberta para vocês. Porque todo o que pede, recebe; todo o que procura, encontra; e, para quem bate, se abrirá”.
Jesus
nos desafia a orarmos com perseverança, pois a oração não pretende mudar Deus,
uma vez que ele sabe o que precisamos. A oração pretende mudar a nós. Se
custamos a receber e a encontrar, se a porta custa a se abrir, será que não
somos nós que custamos a mudar nossas mentes e nossos corações?
3. Pedir o Espírito Santo com confiança
(Lucas 11,11-13)
Se as
pessoas atendem aos seus amigos e familiares, se os pais não negam pão e peixe
a seus filhos, muito mais o Pai do céu atenderá as necessidades
de suas filhas e de seus filhos. O jeito de Deus ser Pai supera o jeito humano. Ele é Pai como na narrativa do filho perdido. Cria seus filhos para a liberdade. Quando erram, espera-os de braços abertos para acolhê-los no amor e com eles fazer festa.
de suas filhas e de seus filhos. O jeito de Deus ser Pai supera o jeito humano. Ele é Pai como na narrativa do filho perdido. Cria seus filhos para a liberdade. Quando erram, espera-os de braços abertos para acolhê-los no amor e com eles fazer festa.
Por
fim, Jesus recomenda que peçamos o essencial ao Pai, isto é, o seu Espírito. É
que ele é a força de Deus que animou a profecia no Antigo Israel (Isaías 61,1).
Ele é o dinamismo que enviou Jesus de Nazaré anunciar uma boa-nova aos pobres
(Lucas 4,18-19). É ele também a nossa força para testemunharmos, até os confins
da terra, o projeto do Reino que Jesus viveu e anunciou (Atos 1,8).
E o
Espírito de Jesus está aí da mesma forma como o sol a brilhar. E como a luz
solar entra em uma casa? Ora, abrindo portas e janelas. Portanto, deixar que a
luz do Espírito ilumine nossos passos está em nossas mãos. Sua força a conduzir
nossas vidas será tanto maior quanto mais nos abrimos através da oração filial
na busca de comunhão com nosso papai querido.
Por
isso,
Pai,
Santificado
seja o teu nome;
Venha o teu Reino;
O pão nosso cotidiano nos dá dia a dia;
E perdoa os nossos pecados, assim como também nós perdoamos a todo o que nos deve;
E não nos conduzas para a tentação.
Venha o teu Reino;
O pão nosso cotidiano nos dá dia a dia;
E perdoa os nossos pecados, assim como também nós perdoamos a todo o que nos deve;
E não nos conduzas para a tentação.
[Ildo
Bohn Gass]
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