“Será que o Filho do Homem
vai encontrar
a fé sobre a terra?” (Lc 18,1-8)
O tema da oração cristã já foi
tratado no capítulo 11 de Lucas. Aqui volta à tona. O versículo 8 mostra que
não se refere à simples oração permanente, mas à uma atitude de oração baseada
na fé, até que Jesus volte.
Jesus tira uma mensagem de uma
situação que devia ter sido comum nos tempos idos (sem falar da atualidade!) -
a impotência de uma pobre mulher diante da prepotência de um juiz corrupto. Por
ser viúva em uma sociedade patriarcal e machista, ela encarna a impotência dos
pobres e marginalizados diante dos poderes do mundo.
Jesus dá uma lição clara - se até
um juiz injusto atende os pedidos insistentes da viúva, quanto mais Deus vai
atender os pedidos daqueles que Ele ama! Se a persistência da viúva alcança o
seu objetivo, quanto mais a oração persistente do discípulo, diante de um Deus
gracioso: “E Deus não fará justiça aos seus escolhidos, que dia e noite gritam
por Ele? Será que vai fazê-los esperar? Eu lhes digo que Deus fará justiça para
eles, e bem depressa.” (v 7)
Aqui o texto nos faz lembrar um
dos temas centrais de toda a Bíblia - o grito do oprimido e a resposta de Deus.
É um tema constante, passando pelas páginas bíblicas desde Êxodo 3, 7-10. Assim,
a questão decisiva não é se Deus fará ou não justiça às comunidades oprimidas -
é óbvio que vai! A pergunta a ser respondida se formula no versículo 8, que já
foi citado: “O Filho do Homem, quando vier, será que vai encontrar a fé sobre a
terra?” O problema não é Deus, mas os discípulos - será que os discípulos
de
Jesus ficarão fiéis a Ele durante a longa espera até a sua segunda vinda? Para
que tenham forças para vencer, então é necessário que eles rezem constantemente
e com fé. Essa mesma ideia se faz presente no fim da Oração do Senhor: “Não nos
deixes cair em tentação” (Lc 11, 4). Lá também, Jesus ensinou que a comunidade
deve pedir o dom da fé e da perseverança, para não desanimar diante dos
problemas da vida.
É muito atual esse ensinamento de
Jesus. Em uma época de tanto desânimo, tanta falta de perspectivas, quando se
chega a falar no “fim das utopias”,
devemos sempre rezar para que não
sucumbamos à tentação do desânimo e
do desespero, de não acreditar na força do
“grão da mostarda”, de desacreditar na presença do Reino. As comunidades das
últimas décadas do primeiro século passavam por algo semelhante. Assim, o autor de Hebreus aconselha as suas
comunidades vacilantes; “Para que vocês não se cansem e não percam o ânimo,
pensem atentamente em Jesus, que suportou contra si tão grande hostilidade” (Hb
12,3). O evangelho de hoje, aplicado a
nós, existe para mostrar-nos: “a necessidade de rezar sempre, sem nunca
desistir” (v. 1). Cabe a nós praticá-lo!
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