AS SURPRESAS DE DEUS
A Palavra de Deus chega a Maria não por meio de um
texto bíblico, mas através de uma experiência profunda de Deus, manifestada na
visita do anjo. Foi graças à ruminação da Palavra de Deus da Bíblia que ela foi
capaz de perceber a Palavra viva de Deus na visita do anjo.
Lucas não fala muito sobre Maria, mas aquilo que fala
tem grande profundidade. Quando fala de Maria, ele pensa nas comunidades.
Apresenta Maria como modelo para a vida das comunidades. É na maneira de ela
relacionar-se com a Palavra de Deus que Lucas vê a maneira mais correta para a
comunidade relacionar-se com a Palavra de Deus: acolhê-la, encarná-la, vivê-la,
aprofundá-la, ruminá-la, fazê-la nascer e crescer, deixar-se moldar por ela,
mesmo quando não a entendemos ou quando ela nos faz sofrer. Esta é a visão que
está por trás dos textos dos capítulos 1 e 2 do Evangelho de Lucas, que falam
de Maria, a mãe de Jesus.
Quando Lucas fala de Maria, ele pensa nas comunidades
do seu tempo que viviam espalhadas pelas cidades do império romano. Maria é,
para ele, o modelo da comunidade fiel. Descrevendo a visita de Maria a Isabel,
ele ensina como aquelas comunidades devem fazer para transformar a visita de
Deus em serviço aos irmãos e irmãs.
O episódio da visita de Maria a Isabel mostra ainda
outro aspecto bem próprio de Lucas. Todas as palavras e atitudes, sobretudo o
Cântico de Maria, formam uma grande celebração de louvor. Parece a descrição de
uma solene liturgia. Assim, Lucas evoca o ambiente litúrgico e celebrativo, em
que as comunidades devem viver a sua fé.
O texto Lc 1,39-56 nos fala da visita de Maria a sua
prima Isabel. As duas eram conhecidas uma da outra. E, no entanto, neste
encontro elas descobrem, uma na outra, o mistério que ainda não conheciam e que
as encheu de muita alegria. Hoje também encontramos pessoas que nos surpreendem
com a sabedoria que possuem e com o testemunho de fé que nos dão.
Lucas acentua a prontidão de Maria em atender as
exigências da Palavra de Deus. O anjo lhe falou da gravidez de Isabel e,
imediatamente, Maria se levanta para verificar o que o anjo lhe tinha
anunciado, e sai de casa para ir ajudar a uma pessoa necessitada. De Nazaré até
as montanhas de Judá são mais de 100 quilômetros! Não havia ônibus nem trem.
O Segundo Livro de Samuel conta a história da Arca da
Aliança. Davi quis colocá-la em sua casa, mas ficou com medo e disse: “Como
virá a Arca de Javé para ficar na minha casa?” (2 Samuel 6,9). Davi mandou que
a Arca fosse para a casa de Obed-Edom. “E a Arca de Javé ficou três meses na
casa de Obed-Edom, e Javé abençoou a Obed-Edom e a toda a sua família” (2
Samuel 6,11). Maria, grávida de Jesus, é como a Arca da Aliança que, no Antigo Testamento,
visitava as casas das pessoas trazendo benefícios. Ela vai para a casa de
Isabel e fica lá três meses. E enquanto está na casa de Isabel, ela e toda a
sua família são abençoadas por Deus. A comunidade deve ser como a Nova Aliança.
Visitando a casa das pessoas, deve trazer benefícios e graça de Deus para o
povo.
A atitude de Maria frente à Palavra expressa o ideal
que Lucas quer comunicar às comunidades: não fechar-se sobre si mesmas, mas sair
de si, sair de casa, e estar atentas às necessidades bem concretas das pessoas
e procurar ajuda na medida das necessidades.
Em Lucas 2,8-20 temos a visita do anjo aos pastores
anunciando o nascimento do Salvador. E o sinal do reconhecimento é este: “Vocês
vão encontrar um recém-nascido, envolto em faixas e deitado numa manjedoura!” Surpresa grande!
Eles esperavam o Salvador de todo o povo e encontram um recém-nascido pobre,
deitado num coxo de animal!
Deixe Deus lhe surpreender. Ele se manifesta nas coisas
pequenas e conhecidas. Quando as coisas são muito conhecidas a gente já não
presta tanta atenção. Assim acontece com a visita de Deus em nossas vidas. Ela
é tão presente e tão contínua que, muitas vezes, já não a percebemos e, por
isso, perdemos uma grande oportunidade de viver na paz e na alegria.
(Baseado no
livro O Avesso é o lado certo – Carlos Mesters e Mercedes Lopes )
Nenhum comentário:
Postar um comentário