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12/03/2016

AGORA Á TEMPO

Arrependimento e conversão (Mateus 3.1-12)


A doutrina do profeta precursor como um novo Elias estava baseada na expectativa da vinda do Messias. Os doutores da lei ensinavam que antes da chegada do Messias deveria haver um grande arrependimento do povo (Mt 11.10). Em diferentes comentários os rabinos mencionavam as profecias de Ml 3.1; 4.5-6 e Is 40.3 e as utilizavam para enfatizar a necessidade de arrependimento e conversão.

Apesar disso, como já vimos, fariseus e doutores acreditavam que chegariam ao Messias através da observância da tradição. Desde o exílio, as autoridades religiosas preocupavam-se com a restauração da nação. A expectativa sempre foi grande. Manter o moral alto, porém, sempre foi uma grande dificuldade. Sucessivas derrotas políticas e militares criaram uma enorme insatisfação. Diríamos hoje que o povo estava
frustrado. É a crise de identidade. Naquela época, essa crise se manifestava com maior intensidade, já que para se chegar ao Messias era necessária a tradição.

Por isso, João afirmava que na radicalização da chegada do Senhor não mais era fator de segurança ser da descendência de Abraão (v. 9). Exigia-se, antes de tudo, metanoia. Podemos imaginar o impacto dessa afirmação! De repente, a segurança de fariseus e doutores ia por água abaixo.

Batismo com água — batismo com o Espírito Santo e com fogo


Já no pós-exílio, o judaísmo adotara o batismo como admissão de prosélitos a uma nova experiência religiosa. Com certeza, essa experiência não era exclusiva da religiosidade judaica. Banhos de purificação eram comuns a diversas culturas, religiosas ou não.

Água lava e purifica. Tira sujeiras. Carrega consigo o mau cheiro. Metanoia aponta para a purificação simbolizada no batismo de arrependimento em águas correntes. Aí está a diferença entre o batismo de João e os demais batismos. Estes apontavam para a iniciação ressaltando a pureza ritual. João destaca a pureza moral. Banhar-se no batismo de João era declarar-se arrependido.

Mas o que João quer dizer sobre o batismo com o Espírito Santo e com fogo de Jesus? Aí está a radicalidade dos profetas. Na sua visão escatológica,-João aponta para a justiça. Quem passar pelo fogo estará salvo. É uma nova nação
de gente boa. Quem não passar pelo fogo, queimará (...) em fogo inextinguível (v. 12).

Fogo no Evangelho de Mateus enfatiza conceitos fundamentais, como justiça e lei. O que importa em Mateus é agir. Este é o critério definitivo. Os verdadeiros discípulos de Jesus o seguem, não apenas o ouvem. Seguir é caminhar após, nos mesmos princípios do Mestre.

Batismo no fogo exige envolvimento:

Não se enganem; não sejam apenas ouvintes dessa mensagem, mas ponham em prática o que ela manda. Porque aquele que ouve a mensagem e não a pratica é como a pessoa que olha no espelho e vê como ela é. Dá uma olhada, depois vai embora e logo se esquece da sua aparência. Mas quem examina bem a lei perfeita que dá liberdade às pessoas e continua firme nela não é somente ouvinte mas praticante do que essa lei manda. E Deus abençoará tudo o que essa pessoa fizer. (Tg 1.22-25.)


Roberto N. Baptista

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