Arrependimento
e conversão (Mateus 3.1-12)

Apesar disso, como já vimos, fariseus e doutores acreditavam que chegariam ao Messias através da observância da tradição. Desde o exílio, as autoridades religiosas preocupavam-se com a restauração da nação. A expectativa sempre foi grande. Manter o moral alto, porém, sempre foi uma grande dificuldade. Sucessivas derrotas políticas e militares criaram uma enorme insatisfação. Diríamos hoje que o povo estava
frustrado. É a crise de identidade. Naquela
época, essa crise se manifestava com maior intensidade, já que para se chegar
ao Messias era necessária a tradição.
Por isso, João afirmava que na radicalização
da chegada do Senhor não mais era fator de segurança ser da descendência de
Abraão (v. 9). Exigia-se, antes de tudo, metanoia. Podemos imaginar o impacto
dessa afirmação! De repente, a segurança de fariseus e doutores ia por água
abaixo.
Batismo com água — batismo com o Espírito Santo e com fogo
Já no pós-exílio, o judaísmo adotara o batismo como admissão de prosélitos a
uma nova experiência religiosa. Com certeza, essa experiência não era exclusiva
da religiosidade judaica. Banhos de purificação eram comuns a diversas
culturas, religiosas ou não.
Água lava e purifica. Tira sujeiras. Carrega consigo o mau cheiro. Metanoia
aponta para a purificação simbolizada no batismo de arrependimento em águas
correntes. Aí está a diferença entre o batismo de João e os demais batismos.
Estes apontavam para a iniciação ressaltando a pureza ritual. João destaca a
pureza moral. Banhar-se no batismo de João era declarar-se arrependido.
Mas o que João quer dizer sobre o batismo com o Espírito Santo e com fogo de Jesus? Aí está a radicalidade dos profetas. Na sua visão escatológica,-João aponta para a justiça. Quem passar pelo fogo estará salvo. É uma nova nação
de
gente boa. Quem não passar pelo fogo, queimará (...) em fogo inextinguível (v.
12).
Fogo no Evangelho de Mateus enfatiza conceitos fundamentais, como justiça e lei. O que importa em Mateus é agir. Este é o critério definitivo. Os verdadeiros discípulos de Jesus o seguem, não apenas o ouvem. Seguir é caminhar após, nos mesmos princípios do Mestre.
Batismo no fogo exige envolvimento:
Não se enganem; não sejam
apenas ouvintes dessa mensagem, mas ponham em prática o que ela manda. Porque
aquele que ouve a mensagem e não a pratica é como a pessoa que olha no espelho
e vê como ela é. Dá uma olhada, depois vai embora e logo se esquece da sua
aparência. Mas quem examina bem a lei perfeita que dá liberdade às pessoas e
continua firme nela não é somente ouvinte mas praticante do que essa lei manda.
E Deus abençoará tudo o que essa pessoa fizer. (Tg
1.22-25.)
Roberto N. Baptista
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