MÍSTICA MISSIONÁRIA
Aconteceu uma vez que um pássaro, ao pousar nos galhos de uma árvore, começou a conversar com ela: Ah! É aqui então que você mora, fala o pássaro que, sem cerimônia alguma, usa o galho da árvore para seu descanso. E continua: - e vejo que você é até muito bonita e forte. Mas que vida mais desgraçada você leva, minha amiga, você não vai a lugar nenhum... Você não conhece o rio, nem a aldeia que fica atrás da montanha. Sempre no mesmo lugar. Isso deve ser uma chatice!
O pássaro já começa a arranjar suas penas e a abrir suas asas para retomar o vôo quando, surpreso, ouve a voz da árvore: Então você já vai partir novamente, meu amigo portador de asas. Sempre voando, sempre a caminho. Você não pertence a nenhum lugar deste mundo. Não sabe o que é ter um cantinho somente seu neste mundo tão grande. Isso deve ser um problema...
Você está falando seriamente? É você mesma que está falando?, reage muito surpreso o pássaro, recolhendo novamente suas asas, e olhando com um pouco mais de atenção e cuidado para a árvore que o abrigava.
E quem mais poderia ser? Você vê ou ouve algo além de mim aqui?, retruca ela com segurança.
E o passarinho: - Você acredita de verdade no que afirma? Eu vôo pelo mundo, dia após dia, conheço naturezas, animais e pessoas diferentes, e posso contemplar os telhados coloridos das cidades e aldeias...
A árvore aprofunda o tom de sua voz e declara: pois o mundo é que vem a mim, meu amigo, o vento e a chuva me procuram, assim como os esquilos e as aves suas irmãs. É em meu tronco que se apóiam os humanos peregrinos em busca de renovação das forças. E, á noite, contemplamos juntos o luar que ilumina minhas folhas.
Já muito mais pensativo, mas ainda resistente, o pássaro reflete em voz alta: mas ... e o sentimento de ir, de ser livre... E a árvore, igualmente pensativa: pode ser..., mas... e o sentimento de pertencer, de permanecer, de estar seguro...
Desta vez, é o pássaro que completa a frase da árvore: o sentimento de estar em casa, murmura ele...
E, para a surpresa sua, ouve da árvore, o que ele pensa: bonito este sentimento de ir, de mover-se, de buscar...
Mais insistente agora, o pássaro completa: ter raízes, saber buscar o profundo, e não somente o espaço externo, que todo mundo vê... ter raízes deve ser algo fantástico, buscar água no manancial invisível...
E a árvore acrescenta: ter asas, abri-las e partir, ser rápido e leve, escolher outro lugar para viver. Ah! Se pudéssemos trocar de identidade, mesmo que fosse por um momento muito breve...
Vamos fazer mais que isso, sugere o pássaro, nem mais pensando em voar para longe. Vamos pedir ao criador um milagre: vamos pedir ao Criador, para criar alguém que tenha, ao mesmo tempo, raízes e asas. Alguém que esteja sempre firmemente enraizado, mas que possa, a qualquer momento, abrir suas asas e voar.
... E Deus criou o missionário(a)!
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