Por: Missionários Xaverianos (Redação: xaverianos.org.br)
Quando uma pessoa diz “Eis-me aqui”, se coloca a disposição do outro com abertura, proximidade e gratuidade, como um dom.
Em Francisco Xavier, essa postura tem como origem e fundamento a total confiança em Deus e como caminho a humildade.
Diante da força avassaladora do Evangelho não adianta. Se a Palavra conseguir penetrar o coração como sentido último da existência, é difícil escapar.
Por volta de 1530, em Paris, Inácio de Loyola anuncia a essência do Evangelho a Francisco Xavier, no tempo oportuno e inoportuno, quando por ela parecia não haver interesse. Ele sabia que nenhuma criatura humana, antes ou depois, podia ficar indiferente.
De imediato, Francisco despreza Inácio, considera-o um homem esquisito, com formas de piedade pedantes, das quais se aproveita para fazer suas piadas.
O jovem navarro, ao contrário, orgulha-se de sua nobreza. Por um tempo, mantém um cavalo e um empregado por sua conta, gasta sempre mais do que o irmão Miguel lhe manda. Em suas dificuldades financeiras, porém, Inácio socorre-o com as esmolas que ganhava em serviços humildes. E teria dito que “esse jovem Francisco era a massa mais dura que ele jamais amassou”.
Mas um verdadeiro mestre sabe esperar. Finalmente, a palavra e o exemplo de Inácio conquistam o coração de Francisco para o seguimento radical de Jesus.
Daquele momento em diante, Xavier não exibe mais a presunção da nobre estirpe da qual descende, mas a disponibilidade do pobre servidor. Apresenta-se não mais com a arrogância da própria identidade, mas com o despojamento de uma nova postura. Uma vez chamado por Deus, não responde falando: “Estou aqui!”. Responde, ao invés, como Samuel: “Eis-me aqui!” (1Sm 3,4).
Quando uma pessoa diz “Eis-me aqui”, não afirma sua identidade com prepotência, mas se coloca à disposição do outro, com abertura, proximidade e gratuidade ... como um dom.
Eu sou um “eis-me aqui”. Essa expressão tira do “eu” a soberania e transforma a pessoa num ser disponível, aberto ao amor gratuito, sem pretensões de reciprocidade.
No Evangelho, encontramos Maria que responde ao anjo Gabriel: “Eis a escrava do Senhor” (Lc 1,38). Essa disponibilidade é típica dos pobres, dos empregados e da gente humilde. O escravo não se pertence, está totalmente à disposição do seu senhor. No nosso caso, porém, essa disponibilidade nasce da escolha livre, da resposta responsável e gratuita ao chamado de Deus.
Em Francisco Xavier, essa postura tem como origem e fundamento a total confiança e o abandono em Deus. Esse é o coração da sua experiência espiritual que tem como caminho a humildade. Para ele, sem a humildade, não se pode ser missionário. Mesmo sendo enviado às Índias como núncio apostólico por parte do Papa e delegado do rei de Portugal, ele faz questão de não usufruir dos títulos para obter privilégios. Quando viajava, tornava-se empregado dos passageiros do navio, o que despertava em todos a admiração pela sua pessoa. Seu programa era: “o meio para ganhar crédito e autoridade entre as pessoas é lavar a roupa, cozinhar sua própria comida, sem pretender o serviço dos outros, e, ao mesmo tempo, dedicar-se ao trabalho apostólico”. Quando chegava a uma cidade, ia alojar-se no meio dos pobres, trabalhando nos hospitais e pregando junto às crianças. Para Xavier, a humildade é a fonte da fecundidade apostólica, uma condição essencial para trabalhar pela glória de Deus e o bem das almas, numa expressão de amor e dedicação ao povo, que ele considerava como um “dono” ao qual se deve prestar conta.
Sua atitude de despojamento radical tornou-o verdadeiramente pobre com os pobres: Xavier soube cativar os pobres pelo próprio testemunho de pobreza. Suas idéias, convicções de fé e visões de mundo nem sempre eram compreendidas e nem sempre compreendiam os outros. Contudo, o Evangelho anunciado no testemunho da pobreza é a prova maior. “A pobreza é a verdadeira aparição divina da verdade”, escreveu o então cardeal Ratzinger. E a pobreza não é algo de abstrato: é lugar da manifestação de Deus, é condição essencial para seguir Jesus. Os ricos não entrarão no Reino de Deus. Ao contrário, bem-aventurados são os pobres, os mansos, os humildes, os crucificados da história. Neles, a Igreja reconhece “a imagem de seu Fundador pobre e sofredor” (Lumen Gentium 8c).
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