São
muitas as razões que motivaram o Papa Bento XVI promulgar o Ano da Fé. Nosso
Papa tem uma visão global da realidade da Igreja, no mundo, desde o Concílio
Vaticano II até nossos dias. Seus trabalhos no coração da Santa Sé, sua
experiência e colaboração no pontificado do Beato João Paulo II, suas viagens e
encontros com as Conferencias Episcopais nos diversos Continentes, os encontros
sinodais, as visitas dos Bispos do mundo inteiro a Roma, proporcionaram-lhe um
real e vasto conhecimento da realidade da Igreja.
Vamos
aqui focalizar algumas razões para a promoção do Ano da Fé, nos escritos e
ensinamentos do Papa Bento.
1.
A desertificação. Há um deserto interno e
externo que assola a humanidade e a Igreja. O deserto interno se concretiza
pela negação de Deus, pelo indiferentismo, pela secularização, pelo individualismo.
Confusão doutrinal, ignorância religiosa, afastamento dos fiéis da Igreja, a
“ditadura do relativismo” são expressões da desertificação interior. O Papa nos
convida a uma peregrinação nestes desertos para transforma-los em jardins e
oásis. Eis a necessidade da fé. Os desertos exteriores são as desigualdades
sociais, a violência, as migrações, a depredação da natureza, entre outros.
2. A descristianização. Nossa sociedade e cultura não são mais religiosas, mas, secularizadas e indiferentes à dimensão religiosa. Vivemos numa realidade pluralista, tecnológica, antropocêntrica onde os valores religiosos contam muito pouco. Por outro lado, esta mesma sociedade é altamente destrutiva desde a cultura da morte até à desestruturação da família, o avanço do câncer, a corrupção generalizada, fome no mundo, o flagelo das drogas. É deestas e outras perguntas de homem moderno.
3.
A mundanização dos ambientes cristãos. O
consumismo, a vida urbana, o poder da mídia invadem os espaços e os corações
dos cristãos e assim caímos na “mundanização da Igreja”, diz o Papa. No sínodo
sobre a nova evangelização vários padres sinodais alertaram para a necessidade
da purificação, conversão, santificação dos bispos, sacerdotes, religiosos(as),
seminaristas. Há como que um “envenenamento do pensamento” afirma Bento XVI. É
preciso redescobrir a fé no âmbito interno da Igreja.
4.
A superação da pastoral da conservação e da
manutenção, é outra razão para o Ano da Fé. Precisamos passar da
sacramentalização, para uma consciência da missão, para uma pastoral
missionária que venha desinstalar os católicos do comodismo, da mesmice, do
cansaço, da rotina. É hora de implantar um catolicismo bíblico, uma opção
fundamental pela Palavra de Deus, uma catequese de iniciação cristã, uma
pedagogia das pequenas comunidades e a prática da visitação permanente. Todas
estas urgências pastorais encontram inspiração, força, dinamismo a partir da
fé. “Se não crerdes, não podereis subsistir” (Is. 7,9).
5. A desumanização. Crescemos economicamente e
teologicamente, mas, involuimos ética e espiritualmente. Eutanásia, aborto,
assaltos, mortes no trânsito, maus tratos e crianças, idosos, mulheres,
assassinato de jovens, discriminação e exclusão de índios, negros e pobres,
caracterizam a desumanização atual.
O Ano
da fé quer ser uma resposta, uma luz e bússola para estes e outros problemas e
crises da Igreja e da sociedade. A fé abre novos horizontes, aponta caminhos,
oferece soluções para as pessoas, as comunidades e a sociedade.
Dom Orlando Brandes
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