"Nenhum profeta é bem recebido na sua pátria” (Lucas 4,21-30)
Não é fácil entender o desfecho da visita de Jesus a Nazaré,
logo após o seu batismo. É muito violenta a mudança de atitude dos Nazarenos - da
admiração à fúria. Talvez Lucas tenha unido dois acontecimentos em uma só
história. Mas, seja como for, alguns pontos importantes saltam aos olhos.
Em primeiro lugar “todos aprovavam Jesus, admirados com as palavras cheias de encanto que saíam da sua boca” (v. 22). Com certeza, essa reação não foi causada pela oratória de Jesus, e nem porque soubesse usar “artifícios para seduzir os ouvintes” (1Co 1, 4), como fazem tantos pregadores midiáticos e políticos hoje. Não, foram palavras cheias de encanto porque brotaram da sua intimidade com o Pai, da sua espiritualidade profunda, da sua capacidade de compaixão, da coerência entre a sua fala e a sua vivência.
A reação dos vizinhos de Nazaré encontra eco muitas vezes nas comunidades
Outro motivo para tal reação, com certeza, era o fato de Jesus desafiar os preconceitos e comodismo da comunidade nazarena, usando os exemplos da ação de Deus em favor de um estrangeiro (Naaman, o sírio) e uma estrangeira (a viúva de Sarepta). Jesus era um profeta, e o profeta sempre incomoda, pois nos desafia a sair de nossas fronteiras, e olhar o mundo como Deus o vê. É difícil que alguém goste de ser incomodado, e por isso preferimos com frequência criar uma religião de ritos e rituais, com certezas absolutas que nos confirmam na nossa visão do mundo. Mas, a verdadeira religião não é só de ritos (embora esses tenham grande importância na celebração da nossa fé). É o seguimento de Jesus, que veio “para que todos/as tenham a vida e a vida plenamente” (Jo 10, 10), vivenciando a solidariedade e a fraternidade entre todas as pessoas, sem preconceitos nem exclusões. É triste ver que em tantos lugares, hoje, a maior preocupação de muitas Igrejas parece ser com as minúcias rituais, com um número cada vez maior de normas, decretos e rubricas, enquanto se ignora as grandes questões da humanidade, como a violência, a exploração, a destruição da natureza, o extermínio de indígenas, e assim por diante. Dificilmente se pode imaginar Jesus de Nazaré agindo assim. Por isso, talvez se fale tanto nos programas religiosos dos meios de comunicação só do Cristo glorificado, e pouco de Jesus de Nazaré, profeta perseguido por causa das suas opções concretas em favor dos sofredores, sem levar em conta a sua raça, religião ou situação social.
Jesus nos dá o exemplo de como enfrentar estes problemas, diante de críticas
Pe. Tomaz Hughes SVD
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