Mudai de vida e produzi frutos!
(Lucas 13,6-9)
Depois do duplo chamado à mudança de
vida, Jesus ainda conta uma parábola: a figueira plantada em meio a uma vinha.
Tanto a vinha (Isaías 5,1-7) como a figueira (Joel 1,7) eram imagens do povo da
aliança. Por ser um povo em aliança com o Deus da vida, sua missão no mundo é,
tal como a vinha e a figueira, produzir frutos, e frutos de justiça (Isaías
5,7) e de amor (João 15,1-17), em profunda comunhão com o Deus da aliança. Mas,
a figueira não produziu os frutos desejados.
Interessante notar que Marcos
(11,12-14.20-24) e Mateus (21,18-22) situam a parábola da figueira em íntima
conexão com a expulsão dos vendilhões do templo. Ou seja, a figueira é símbolo
do sistema do templo que manipula a aliança com Deus, de modo a não mais gerar
os frutos que deveria. Em vez de
promover a vida em comunhão com o Pai, foi
transformado em covil de ladrões (Lucas 19,46). Em Marcos e Mateus, portanto, a
figueira seca representa toda estrutura do templo que não gera mais frutos de
justiça. E aqui, temos um julgamento severo e indignado de Jesus sobre a
instituição oficial judaica ao amaldiçoar a “figueira”.
Diferentemente, Lucas insere a parábola
da figueira em outro contexto e apresenta Jesus revelando a misericórdia de
Deus. Mais do que os outros evangelhos, Lucas resgata esse rosto misericordioso
de Deus (cf. Lucas 6,36; 15,11-32). Na parábola, o dono da vinha representa
Deus. E, como em Mateus e Marcos, seu julgamento é severo: “podes cortá-la”
(Lucas 13,7). Mas Jesus, que é representado pelo vinhateiro, pede a seu Pai
mais uma chance para o povo: “Senhor, deixa-a ainda este ano, para que eu
escave ao redor dela e ponha estrume” (Lucas 13,8). Jesus revela outra
imagem
de Deus: misericordioso, compassivo, cheio de ternura e de perdão. Como o pai
misericordioso, sempre dá uma chance e espera a volta do filho,pronto para
festejar o seu retorno (Lucas 15,11-32).
É esse convite que Jesus também nos faz
nesta Quaresma e em todos os dias de nossa vida. Ele quer a vida e não a morte.
“Porque não tenho prazer na morte de ninguém, diz o Senhor. Portanto, mudai de
vida e vivei” (Ezequiel 18,32; cf. v. 23).
Ildo Bohn
Gass
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