Eu lhes
dou a minha paz (Jo 14, 23-29)
Com este dom, Jesus deixa com a sua comunidade a sua paz.
Ele usa a palavra tradicional dos judeus para a paz, “Shalom”. É uma paz
baseada na vinda do Espírito, que será atualizada na noite de Páscoa quando
dirá “A paz esteja com vocês! Recebam o Espírito Santo” (Jo 20, 21-22).
Enfatiza que não é a paz como o mundo a entende – simplesmente como a ausência
de guerra. Muitas vezes a paz que o mundo dá é aquela falsa, que depende
da força das armas para reprimir as legitimas aspirações do povo sofrido – como
tantos países experimentaram durante as ditaduras de direita e da
esquerda.
O “shalom” é tudo o que o Pai quer para o seu povo. Só
existe quando reina o projeto de vida de Deus. Implica a satisfação de
todas as necessidades básicas da pessoa humana, da libertação da humanidade do
pecado e das suas consequências. Como dizia o saudoso Papa Paulo VI:
“Justiça é o novo nome da paz!”. O “shalom” dos discípulos não pode ser
perturbado pela sua partida, pois é através da volta do Filho para o Pai que o
Shalom vai se instalar.
O “shalom”, a verdadeira paz, é um dom de Deus. Mas precisa da colaboração humana.
Diante de tantas barbaridades hoje, de tanta
violência no campo e na cidade, da exploração do latifúndio, da impunidade, da
corrupção, qual deve ser a atitude do cristão? Se nós acreditamos no
shalom, não podemos compactuar com sistemas repressivos ou elitistas que tiram
da maioria (ou duma minoria) os direitos básicos que pertencem a todos os
filhos/as de Deus. Às vezes, este shalom convive ao lado do sofrimento e
perseguição por causa do Reino, mas quem experimenta na intimidade a presença
da Trindade, também experimenta a verdade da frase do texto de hoje, "não
fiquem perturbados, nem tenham medo” (v 27), pois disse Jesus, “eu venci o
mundo”. Por isso devemos sempre “fazer a memória de Jesus” (aqui se
destaca o momento privilegiado da celebração eucarística) - da sua pessoa e do
seu projeto, para que tenhamos critérios certos para verificar a presença – ou
ausência - do “shalom” na nossa sociedade, e nos comprometermos com a criação
do mundo mais justo que Deus quer.
[Tomaz Hughes SVD]
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