A paz, dom do Ressuscitado (Jo
20,19-23)
O texto se
inicia indicando o dia em que Jesus ressuscitado se manifestou aos discípulos.
O primeiro dia da semana tem ligação com o primeiro dia da criação. Portanto, a
ressurreição de Jesus marca uma nova criação. A situação em que se encontram os
discípulos, trancados e com medo, será transformada com a presença de Jesus no
meio deles. A alusão à hora do dia (ao anoitecer) guarda relação com o momento
em que os discípulos enfrentam forte tempestade na travessia do mar. Jesus vem
ao seu encontro, caminhando sobre as águas, e manifesta seu poder de salvação
(cf. 6,16-20). Percebe-se que João retrata a situação em que se encontram as
comunidades cristãs ao redor do ano 100: atemorizadas e escondidas devido à
hostilidade e perseguição tanto da parte do império romano como de grupos
judaicos.
Jesus jamais abandona os seus, como
havia prometido: “Não vos deixarei
órfãos” (14,18). Ele se põe no meio deles
como o doador da paz. A fé em Jesus, presente no meio da comunidade, garante a
superação do medo e da insegurança que estagnam. Ele é o centro ao redor do
qual se forma a comunidade. Ele é o fator de união e de garantia da paz. Já
havia anunciado em seu discurso de despedida, antes de sua morte: “Eu vos disse
essas coisas para terdes paz em mim. No mundo tereis muitas tribulações, mas
tende coragem: eu venci o mundo” (16,33).
Ao
mostrar-lhes as mãos e o lado, Jesus lhes revela os sinais de seu amor
vitorioso. Nenhuma força será capaz de
destruir a vida, pois a morte foi vencida definitivamente. Ao verem o
Senhor, os discípulos enchem-se de alegria e recobram o ânimo.
A paz, a alegria e a coragem deverão
acompanhar os apóstolos na missão que recebem do Senhor Jesus. Deverão
seguir o exemplo do Mestre, que cumpriu fielmente a missão recebida do Pai. A
fidelidade à missão, porém, não se deve à boa vontade dos enviados. Deve-se,
sim, à ação do Espírito Santo. O sopro de Jesus sobre os discípulos lembra o
sopro de Deus nas narinas do primeiro ser humano, infundindo-lhe a vida. O
Espírito cria uma nova condição: a vida
divina nos discípulos lhes garante a capacidade de amar como Jesus amou. É
um amor que liberta o mundo de todo o pecado, o qual, para João, representa a
ordem social baseada na opressão e na injustiça. O Espírito Santo, que age por meio dos seguidores de Jesus, oferece
todas as condições para o estabelecimento da paz, da justiça e da fraternidade
no mundo.
A festa de Pentecostes nos oferece a
oportunidade de reconhecer o dom
do Espírito Santo em cada pessoa e na comunidade. Quem o
acolhe tem todas as condições de vencer a timidez, o medo, a tristeza, o
desânimo e a solidão. Em cada um de nós, a partir do batismo, existe essa força
do alto que nos enche de auto-estima e nos impulsiona a fazer o bem, do mesmo
modo como Jesus fez. O Espírito Santo nos impulsiona a participar ativamente da
comunidade, leva-nos ao engajamento em serviços diferentes e ao compromisso de
transformar as realidades de pecado e de morte. Ele nos dá a capacidade de diálogo entre nós, com as diversas Igrejas e
as diversas culturas. É para a vida em abundância que Deus nos chamou. Nós
respondemos afirmativamente, pois acreditamos no mesmo sonho de Jesus.
Ao redor de Jesus ressuscitado se
organiza a comunidade cristã. Sua presença é garantia de união,
de paz, de alegria e de segurança. Como seus discípulos missionários, vivemos e
anunciamos seu amor e seu perdão. A realidade de egoísmo, de opressão e de
todas as formas de injustiça será transformada se nos amarmos como Jesus nos
amou. Portanto, o empenho pela promoção da unidade no mesmo projeto de vida
digna para todas as pessoas é sinal concreto de adesão a Jesus. A acolhida e a contemplação das diversas
expressões religiosas e culturais colaboram para um mundo de paz, dom de Jesus
ressuscitado. A valorização dos diferentes ministérios, exercidos com amor,
é expressão de louvor e gratidão a Deus, fonte de todas as graças. (texto tirado da Revista Pastoral)
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