“Pode
uma mãe esquecer-se do seu filho? Mesmo que uma mãe se esquecesse, Deus nunca
se esqueceria de nós” (Is 49, 15).
Esta frase do profeta Isaias torna-se uma
provocação para nós que estamos refletindo sobre a origem e a razão última da
missão.
Quando falamos de missão,
é espontâneo pensar no momento em que Jesus, antes de voltar para o Pai, reúne
seus discípulos e lhes confia sua própria missão: “vão pelo mundo inteiro e
anunciem a Boa Notícia para toda a humanidade (Mt 16, 15). Seria esta a origem
da missão? Considerando atentamente o modo como Jesus apresenta, vemos como Ele
mesmo sabe que foi enviado.
“Quem escuta a vocês escuta a mim, e quem rejeita
vocês rejeita a mim; mas quem me rejeita, rejeita Aquele que me enviou” (Lc 10,
16). Só no evangelho de São João, Jesus usa por mais de 40 vezes as expressões “fui enviado e me enviou”.
O
MOTIVO DO ENVIO
Do contexto das frases de
Jesus entendemos que Ele se sente enviado pelo Pai. É Dele, portanto, que nasce
a missão. Jesus veio na plenitude dos tempos, mas, antes Dele, Deus havia
enviado Abraão, Moisés, Isaías e tantos outros que, como Ele, sonham com um
mundo melhor...
Mas por que tanta atenção
ao ser humano? Encontramos uma dica interessante no livro do Deuteronômio: “Se
Javé se afeiçoou de vocês e os escolheu, não é porque vocês são os mais
numerosos entre todos os povos; pelo contrário, vocês são o menor de todos os
povos!” (Dt 7, 7-8). Deus, portanto intervém na história e se revela por um
único motivo: porque é um Deus que ama.
O evangelista São João é
ainda mais incisivo: “Pois Deus amou de tal forma o mundo, que entregou o seu
Filho único, para que todo o que nele acredita não morra, mas tenha a vida
eterna!” (Jo 3, 16). O amor seguidamente rompe os limites da doação. Como nos
diz São Paulo, o amor é gratuito, nada espera em troca. A missão é, portanto, a
concretização do amor de Deus que quer a vida plena para todos os seus filhos.
Deus coloca-se ao lado dos pequeninos, toma sua defesa e os ama.
UMA
MISSÃO A TRES
A missão que encontra sua
fonte no amor do Pai e sua expressão máxima no envio do próprio Filho, é
fortemente marcada pela presença do Espírito. No momento em que Jesus desde às
águas do Jordão para ser batizado pelo seu precursor, os céus se abrem e sobre
Ele desce o Espírito Santo e o Pai o apresenta como o “Filho muito amado” (Lc 3, 22).
Ao apresentar sua missão
na sinagoga de Cafarnaum, Jesus diz: “O Espírito do Senhor está sobre mim,
porque Ele me consagrou com a unção, para anunciar a Boa Notícia aos pobres,
enviou-me para proclamar a libertação aos presos e aos cegos a recuperação da
vista, para libertar os oprimidos, e para proclamar um ano de graça do Senhor”
(Lc 4, 18).
Consagrado, portanto pelo espírito, Jesus está agora pronto para
dar início à missão que lhe fora confiada. Da mesma forma, quando começa a
preparar os seus discípulos para assumir a missão que Ele mesmo recebera do
Pai. Jesus promete enviar o espírito Santo. É o Espírito da verdade que dará
testemunho de Cristo (Jo 15, 26) e os ajudará à recordar tudo o quanto Ele lhes
havia ensinado e os conduzirá à compreensão plena da verdade. Sua presença (Jo
16, 13-15). Sua presença na missão é tão essencial que os discípulos não devem
partir de Jerusalém antes de receber o espírito. Somente após a sua vinda, os
apóstolos poderão ser testemunhas de Cristo até os confins da terra (At 1,
6-11).
TU
ME AMAS
Aparecendo aos discípulos,
o Senhor ressuscitado dirige-se a Pedro, a quem escolheu como fundamento da
Igreja, e lhe pergunta: Pedro, tu me amas? Apesar da
resposta afirmativa do apóstolo, a pergunta de Jesus torna-se particularmente
incisiva ao ser repetida por três vezes. Pela convivência Jesus conhecia o
coração de Pedro e certamente sabia o quanto o apóstolo o amava. Mais que a
Pedro, esta insistência quer deixar um ensinamento a todos os quantos, ao longo
da história, vão consagrar a sua vida a esta mesma causa: a missão que brota de
Deus somente tem razão de ser se for vivida no amor.
Em sua encíclica sobre a
Missão (Redemptoris Missio), o Papa recorda
que o amor é o único critério pelo qual tudo deve ser feito ou não. Se Deus
intervém na história da humanidade movido unicamente pelo seu amor, este é
também o único motivo válido para a Igreja, dentro dela, cada pessoa
consagrar-se à missão. A missão pressupõe, portanto, discipulado e aprendizado.
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