O Messias assume a sua missão
Jesus é batizado com água junto ao povo, em meio ao povo. Em
seu batismo, Jesus é investido para a sua missão, guiado pelo Espírito de Deus.
É somente Lucas quem faz referência à atitude orante de Jesus no seu batismo. E
é esta atitude de intimidade de Jesus com o Pai que faz com que o Espírito o
transforme e o envie para evangelizar os pobres (Lucas 4,18-19). Também para
nós Jesus pediu que tivéssemos essa atitude orante durante a vida toda,
abrindo-nos ao Espírito de Deus. Ele é fruto da oração, da acolhida, é dom
(Lucas 11,13).
João batiza
Jesus com água. No entanto, Jesus batiza com o Espírito e
com o fogo. Por isso, o seu batismo é
superior ao de João. É no Espírito Santo, representado pelo fogo de
Pentecostes (Lucas 3,15-16; Atos 2,1-13). Neste Evangelho, ainda antes do
batismo de Jesus, há uma ênfase muito grande na apresentação de pessoas abertas
à ação do Espírito Santo.
Lembramos João Batista, Maria, Zacarias e Simeão
(Lucas 1,15.41.67; 2,26-27). E o fogo recorda a presença de Deus no êxodo, na
libertação do povo oprimido pelo sistema faraônico (Êxodo 3,2-3; 13,21; 19,18).
É o mesmo fogo de Pentecostes, o dinamismo do Espírito, que entusiasma os
discípulos e as discípulas de Jesus para o anúncio e a vivência da boa-nova até
os confins da terra (Atos 1,8; 2,1-13).
Uma vez preso João, Jesus dá um novo rumo à sua missão.
Diferentemente do Precursor, que anuncia a vinda do Reino de Deus para breve e
como um juízo
severo, Jesus vive o Reino já presente no seu jeito de se relacionar
especialmente com as pessoas mais discriminadas, revelando a misericórdia do
Pai (Lucas 7,22; 11,20; 17,20-21).
Lucas
apresenta o batismo de Jesus depois da prisão de João como o ato em que o Espírito de Deus vem confirmar o Nazareno enquanto Messias,
ungindo-o para a missão do serviço, da mesma forma como fora ungido o servo de
Deus em Isaías 42,1 e 61,1. Nesse momento, Jesus estava em oração, isto é, em íntima comunhão com a fonte da
vida, com o projeto do Reino. Tão íntima é essa comunhão que, em Jesus, Deus e
a humanidade se encontram. Esse é o significado da abertura do
céu (Lucas
3,21), realizando a esperança do povo (Isaías 63,19b). Em Jesus, céu e terra
estão tão próximos que é possível perceber a presença materializada ("em forma corpórea")
do Espírito de Deus nas atitudes de Jesus. Se em Gênesis 8,8-11 a pomba foi
a mensageira da vida recriada depois de submersa pelas águas do dilúvio, agora
a presença da pomba anuncia que o Espírito de Deus impulsiona Jesus a realizar
a nova criação, mulheres e homens recriados a partir das águas do batismo. No
batismo, morremos com Cristo e ressuscitamos com ele para uma vida nova
(Romanos 6,1-14). Viver como pessoa renovada e ressuscitada é, portanto, missão
de todos nós.
Ao lembrar a
entronização do rei que vem libertar o povo (Salmo 2,7: "Tu és o meu filho"),
a comunidade de Lucas apresenta Jesus como o verdadeiro Rei e Messias, que veio governar com justiça e no serviço ao povo. Por isso, lembra também a
missão do servo em Isaías 42,1 ("em ti está o meu agrado").
No batismo de Jesus, temos uma Epifania, ou seja,
uma manifestação do filho de Deus ao mundo, gerado como
o messias que vem libertar o povo.
No batismo,
Jesus assume publicamente o seu compromisso com as novas relações do Reino de
Deus já presente em seu agir. Batizar-se em seu nome, na linguagem paulina, é revestir-se de Cristo, ou seja, é agir como o próprio
Cristo agia, superando todas as formas de discriminação (Gálatas 3,27-28).
Ildo Bohn Gass
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