“Convertam-se,
porque o Reino do
Céu está próximo” Mt 4, 12-23
Nesta passagem do Evangelho
inaugura solenemente a missão de Jesus, a de anunciar a presença do Reino de
Deus entre nós. Esta é a mensagem central de Jesus, e junto com a Ressurreição,
formava a base e o objetivo da esperança cristã.
O primeiro passo de Jesus é chamar
um grupo de discípulos, começando com os pescadores do Lago de Genesaré. Jesus
rompe com o costume rabínico, pois ele mesmo chama os seus discípulos. Em
Mateus, Jesus muda a prática rabínica também em outros pontos - os discípulos
não serão meros ouvintes do ensinamento do Mestre, mas colaboradores na sua
missão; as multidões também seguirão Jesus, buscando n’Ele algo que não
encontravam nos mestres oficiais das sinagogas (Mt 4, 25; 8, 1; 12, 15; 14, 13
etc); em um segundo momento, Jesus vai fazer uma crítica a este seguimento,
mostrando que segui-Lo vai muito além do que os discípulos e as multidões
tinham imaginado - será tomar sobre si a sua cruz (16, 24).
É interessante observar os
detalhes do chamamento dos primeiros discípulos
para serem “pescadores de
homens”, (“pescador” é uma das duas principais imagens para o ministério no
Novo Testamento. A outra, a de pastor tem menor conotação missionária) - dois
estavam lançando as redes e dois estavam consertando-as. Assim o evangelho
mostra a dinâmica da vida cristã - tem hora para lançar redes (a ação
missionária) e hora para consertá-las (cuidar mais da vida interna das pessoas
e da comunidade). A rede pode significar a comunidade dos discípulos. Com o
tempo, as redes dos pescadores se rompiam, por causa dos detritos apanhados, e
precisavam ser consertadas, pois rede rompida não pega peixe. O mesmo acontece
com a vida cristã, tanto no nível individual como comunitário - com o tempo
podemos romper as redes,
enfraquecendo a nossa missão. Consertar as redes
simboliza o refazer dos elos de união entre nós e Deus, e entre os próprios
irmãos e irmãs. Mas, como rede consertada também não apanha peixe se não for
lançada, assim a comunidade cristã não pode ficar voltada sobre si mesmo, em
uma vida somente interna; mas, esta vida forte de união interna deve levar de
volta à missão.
As imagens do chamamento nos
advertem contra dois extremos que distorcem o seguimento de Jesus - um ativismo
desenfreado, só voltado para fora, e que descuida da vida interior das pessoas
e das comunidades, de um lado, e uma vida só voltada para dentro, do outro,
fazendo da experiência espiritual algo intimista e individual, que não leva à
missão. Para o cristão, a missão brota da
intimidade com Jesus e leva a
aprofundar esta intimidade. A intimidade com Jesus leva de volta à missão e é
alimentada pela experiência da missão. Todos os cristãos e cristãs são chamados
a serem “pescadores de homens”, colaboradores na construção do Reino de Deus,
que já está no meio de nós.
joaobortoloci@bol.com.br
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