(Mateus 6,24-34)
O dinheiro, convertido em ídolo
absoluto, é para Jesus o maior inimigo para construir esse mundo mais digno,
justo e solidário que quer Deus. Faz já vinte séculos que o Profeta da Galileia
denunciou de forma rotunda que o culto ao dinheiro será sempre o maior
obstáculo que encontrará a humanidade para progredir para uma convivência mais
humana.
A lógica de Jesus é esmagadora: “Não
podeis servir a Deus e ao dinheiro”. Deus não pode reinar no mundo e ser Pai de
todos sem reclamar justiça para os que são excluídos de uma vida digna. Por isso
não podem trabalhar por esse mundo mais humano pretendido por Deus os que,
dominados pela ânsia de acumular riqueza, promovem uma economia que exclui os
mais débeis e os abandona à fome e à miséria.
É surpreendente o que está a suceder
com o Papa Francisco. Enquanto os meios de comunicação e as redes sociais que
circulam pela internet nos informam, com todo o tipo de detalhes, dos gestos
menores da sua personalidade admirável, se oculta de forma vergonhosa o seu
grito mais urgente a toda a humanidade: “Não a uma economia da exclusão e da
iniquidade. Essa economia mata.”
Francisco não necessita de grandes
argumentações nem profundas análises para expor o seu pensamento. Sabe resumir
a sua indignação em palavras claras e expressivas que poderiam abrir a informação
de qualquer telejornal ou ser título da imprensa em qualquer país. Só alguns
exemplos.
“Não pode ser que não seja notícia
que morre de frio um idoso no meio da rua e que o seja a queda de dois pontos
na bolsa. Isso é exclusão. Não se pode tolerar que se deite comida fora quando
há pessoas que passam fome. Isso é iniquidade.”
Vivemos na ditadura de uma economia
sem rosto e sem um objetivo verdadeiramente humano. Como consequência,
“enquanto os ganhos de uns poucos crescem exponencialmente, os da maioria ficam
cada vez mais longe do bem-estar dessa minoria feliz”.
“A cultura do bem-estar
anestesia-nos, e perdemos a calma se o mercado oferece algo que todavia não
compramos, enquanto todas essas vidas truncadas por falta de possibilidades nos
parecem um espetáculo que de nenhuma maneira nos altera.”
Quando o acusaram de comunista, o
Papa respondeu de forma rotunda: “Esta mensagem não é marxismo, mas sim
Evangelho puro”. Uma mensagem que tem de ter eco permanente nas nossas
comunidades cristãs. O contrário poderia ser sinal do que diz o Papa: “Estamos
a tornar-nos incapazes de nos compadecermos com os clamores dos outros e já não
choramos ante o drama dos outros”.
José Antonio Pagola
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